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Cresce nos países mais desenvolvidos a valorização do atendimento educativo de grupos de meninos e de meninas em diferentes ambientes escolares, dadas as indiscutíveis diferenças e níveis de amadurecimento de uns e outros, cuja assimetria é mais do que apenas considerável. As peculiaridades entre os sexos, observadas a olho nu, têm bases em rigorosos estudos científicos e estatísticos.

As pesquisas mostram que a educação direcionada a cada sexo potencializa a aprendizagem dos alunos, melhorando o desempenho escolar deles e delas e resultando em rankings muito favoráveis nessa modalidade de ensino, uma vez que, entre outros benefícios, reduz a distração e os conflitos na sala de aula e levam os estudantes a dar o melhor de si mesmos, possibilitando oportunidades reais de sucesso acadêmico.

Enquanto algumas pessoas, por desconhecerem a complexidade desse processo, consideram esse modelo ultrapassado ou equivocado, vários países desenvolvidos (França, Canadá, Estados Unidos, Suécia, Inglaterra, Austrália, Coreia do Sul etc.) têm adotado esse sistema de ensino como meio de melhorar os índices escolares e sociais, uma vez que ele já demonstrou inquestionáveis avanços nessas duas esferas.

A tendência a essa modalidade é uma das realidades educacionais mais modernas. Em 2006, a revista 2020 Vision, editada por uma equipe de especialistas, fez recomendações ao governo britânico propondo mudanças no sistema educativo a fim de melhorar a situação atual: ensinar meninas e meninos em ambientes distintos, levando-se em consideração suas diferenças. No Pisa, os colégios privados ingleses receberam 596 pontos, a melhor pontuação do mundo, sendo que os melhores colégios privados desse país são de educação single sex. O Financial Times publica anualmente os resultados das “top independent schools”. Há muitos anos, as 25 escolas que obtêm os melhores resultados são sempre as de educação single sex. A primeira escola mista aparece no número 26 da lista.

O maior respeito à diferença é considerar que ela existe e atendê-la devidamente

Na Austrália, um estudo com acompanhamento de 270 mil estudantes realizado durante seis anos revelou que os alunos de escolas não mistas obtiveram resultados acadêmicos superiores (entre 15% e 22% melhores) aos daqueles que frequentavam escolas mistas. Em 1972, o governo dos Estados Unidos proibiu a criação de novas escolas públicas single sex e em 2006, quando elas voltaram a ser legalizadas, o número deu um salto: de 11, passaram para mais de 540 escolas atualmente, sem contar as instituições privadas.

Após décadas de investigação, a neurociência, a endocrinologia genética e a psicologia do desenvolvimento demonstraram que as diferenças entre os sexos, quanto a interagir com a realidade, seja nas relações sociais, nos sentimentos, na comunicação, no pensamento, na ação e reação, no trabalho e estudo e na resolução de problemas, não são apenas o resultado de “papéis sociais” tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres, nem mesmo de condicionamentos histórico-culturais, mas, são, na verdade, diferenças inatas.

O que pretende esse inovador, mas consolidado sistema de educação single sex é não menos do que atingir cada aluna e cada aluno, levando em conta a sua performance pessoal a fim de aumentar a eficácia do processo ensino-aprendizagem, uma vez que esse é o aporte originário de toda escola. Desconsiderar as diferenças entre meninos e meninas pautando as ações educativas em um grupo pretensamente homogêneo por levar em conta apenas o fator cronológico não chega a atender com excelência os alunos.

Essa atenção personalizada será tão mais exequível quanto mais uniforme seja o grupo, pois uma certa uniformidade permite atender melhor à diversidade, possibilitando uma real igualdade de oportunidades.

O maior respeito à diferença é considerar que ela existe e atendê-la devidamente, erradicando, assim, a exclusão e a marginalização, já que, em seu livro Primeiro sexo, de 2003, a antropóloga Hellen Fischer enfatiza: “cada sexo joga com um baralho de cartas evolutivas diferentes”.

O ambiente single sex, na faixa etária entre 6 e 17 anos, promove um desenvolvimento acadêmico e humano significativo, pois consolida a identidade sexual e favorece sólidas amizades com os seus pares, potencializando a aprendizagem, pois tanto eles como elas estarão imersos em um cenário pró-acadêmico, cuja pedagogia está totalmente voltada para as suas peculiaridades, e cujos educadores estarão diante de pessoas únicas. Experiência contrária têm os professores de colégios mistos norte-americanos, que afirmam perder 80% de seu tempo de aula resolvendo crises geradas pelas diferenças de critérios e formas de pensar entre meninos e meninas, diminuindo a eficácia do seu trabalho.

As pesquisas demonstram que alunas de colégios single sex optam por carreiras “ditas” masculinas, como Matemática, Informática e Química, da mesma forma que os meninos escolhem cursos “ditos” femininos como Línguas, Literatura e História, um fenômeno que ocorre nesse modelo de ensino por terem sido, ambos, ricamente atendidos em suas necessidades. Os estudos evidenciam também que os alunos egressos desse modelo educacional apresentam aspirações mais altas. Na área das relações sociais, os benefícios da educação single sex são notáveis: aumento da autoconfiança e do autoconhecimento, segurança emocional, consolidação da identidade, aprofundamento das amizades, maior respeito pelo outro sexo e clara diminuição dos estereótipos, demonstrando que nem toda distinção é, enquanto tal, discriminatória.

A educação diferenciada por sexo não discrimina os alunos, simplesmente os distingue por motivos pedagógicos (não por princípios religiosos, nem ideológicos, nem morais), a fim de formar homens e mulheres competentes, plenamente desenvolvidos, que atuem no público e no privado com excelentes condições e preparo.

Por levar em conta a diferença entre os dois sexos, a educação single sex pede licença para se estabelecer no Brasil como um dos sistemas de ensino mais eficazes da atualidade mundial. Afinal, parafraseando Boaventura de Souza Santos, “lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem. Lutar pela diferença sempre que a igualdade nos descaracterize”.

Lélia Cristina de Melo é diretora de Formação da Escola do Bosque Mananciais.
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