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O século 20 acelerou o progresso de tal forma que o conhecimento que se dava gradualmente, quase imperceptivelmente, entre gerações sofreu uma reviravolta quando passou para uma amplitude que atinge não apenas o indivíduo, mas a comunidade em si. Comunidade esta entendida, vista e sentida do ponto de vista de uma rede de abrangência global. Abandonou-se a criação, transmissão e aprendizagem do passado pela padronização e quebra da divisão do trabalho.

É evidente que quanto mais rápido acontecem os fatos, menos se pode captar sua essência. Passa-se a viver, assim, apenas certas nuances do aprendizado, não todo ele, o que justifica uma instrução cada dia mais voltada para a ascensão social. Educar confundiu-se com o instruir, já que é pelas técnicas usadas hoje que se acirra a competitividade profissional. Mas o que fazer com tanta instrução e com tanta técnica? Como se pode utilizar dessas ferramentas para se buscar as metas que se almejam? Como se diferenciar em um campo em que as técnicas se equivalem e se busca o detalhe como meio de diferenciação profissional? Nasceu, assim, o coaching.

Vê-se um crescimento vertiginoso dessa atividade sem que se saiba ao certo as razões de sua necessidade, nem como se atinge um ponto de desenvolvimento pessoal para o alcance do status de guias de outros, já que não se trata de uma profissão regulamentada. Artigos dizem que o coach é um apoio ao cliente (coachee) na elaboração de metas congruentes com seus valores e motivações para que possa atingir objetivos elevados na carreira. É assim que pessoas das mais variadas áreas do conhecimento humano descobriram que podem usar suas experiências pessoais e acadêmicas para apoiar o desenvolvimento de outros, sem que tenham qualquer preocupação com quais valores ou motivações estejam ajudando a aprimorar.

O processo em si não é novo, sendo visto desde os primórdios da humanidade. A diferença é que naquela época, junto com o ensino e a instrução, passavam-se conceitos morais que incentivavam (educar) ao educando colocar em prática suas habilidades para o bem da sociedade. A Igreja Católica foi uma das maiores propagadoras desse método através de suas direções espirituais em que, além do ensino e da instrução, educava-se também na ética e na estética. Entretanto, este tipo de educação, disponível gratuitamente aos fiéis nas paróquias, foi solapado por propagandas e ideologias relativistas.

O abandono deste processo na educação da ética e da estética responde pelo fosso visível entre as eras educacionais pois, enquanto a educação suprageracional promovia uma iniciação às crianças, a intrageracional apenas as condiciona. Enquanto a primeira ensinava da mesma maneira como os pássaros crescidos lidam com o filhote, ao expulsá-lo do ninho para ensiná-lo a voar, as outras os tratam como o criador de aves que faz deles alguma coisa com propósitos que os próprios pássaros desconhecem.

Pode-se dizer, então, que a educação antiga era uma espécie de propagação – homens transmitindo a humanidade para outros homens; já a nova não passa de mera propaganda sem qualquer compromisso com a humanidade em si. Formar o raciocínio reflexivo nutrindo o educando com valores morais, de forma a desenvolver corretamente o intelecto e capacitar o sujeito nas tomadas de decisão, libertando-o da escravidão do medo e da incerteza, é para poucos!

Sávio Ferreira de Souza, advogado e mestre em Educação, é vice-presidente da Pinho Logistics.

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