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Quatro policiais faziam a ronda no Bronx, Nova York, em 1999, quando viram Amadou Diallo na rua. Era meia-noite num lugar escuro e perigoso, normalmente vazio naquele horário. Os oficiais resolveram abordar Diallo, que levou a mão ao casaco para procurar os documentos. O policial gritou "mostre suas mãos", Diallo puxou a carteira como quem saca uma arma e foi morto. Uma fatalidade estúpida, como ficou provado, e os policiais foram absolvidos. Você nunca ouviu falar dessa história, apesar de ter inspirado músicas de Bruce Springsteen e Ziggy Marley, porque o mundo era outro.

Em agosto deste ano, Michael Brown, um gigante de 1,93 m e mais de 130 kg, foi morto pelo policial Darren Wilson em legítima defesa. Wilson foi inocentado, mas sua vida virou um pesadelo kafkiano por causa de uma narrativa ficcional que invadiu o noticiário, criada por políticos oportunistas, ativistas raciais e jornalistas militantes para carimbar falsamente "racismo" no caso e tocar fogo no país. Dois dias depois da morte de Michael Brown, em Salt Lake City, um policial negro matou um jovem branco desarmado numa situação muito semelhante. O assassinato de Dillon Taylor, 20 anos, não mereceu uma linha na grande imprensa.

O acirramento das tensões raciais nos EUA levou ao assassinato de dois policiais em Nova York no último dia 20. Bill de Blasio, o ultraesquerdista prefeito da cidade, foi um dos que mais apostaram no fomento dos protestos de rua. Os policiais Rafael Ramos e Wenjian Liu, um latino e um asiático, pagaram com a vida por um jogo político sujo, vítimas da guerra contra a verdade. O assassino, Ismaaiyl Brinsley, postou no Instagram antes de cometer os crimes: "Eles levaram um de nós... Vamos levar dois deles". Bill de Blasio, repetem agora os policiais, tem "sangue nas mãos".

Os casos de Michael Brown, Eric Garner e Trayvon Martin são usados pela esquerda americana, representada pelo Partido Democrata, para fazer má sociologia e proselitismo político a partir de narrativas fabricadas. Com a provável candidatura de Hillary Clinton em 2016, já se vê uma sutil mudança de foco dos spin doctors, ou manipuladores profissionais do noticiário, para a exploração de casos reais ou imaginários de estupros e violência doméstica para construir o clima político para a eleição da primeira presidente mulher.

Há poucas semanas, a atriz e escritora Lena Dunham, criadora da série Girls, da HBO, disse em seu livro autobiográfico que foi estuprada na universidade por um tal "Barry", filiado ao Partido Republicano. O problema é que há um Barry real que bate com a descrição e, após a publicação do livro, sua vida virou de cabeça para baixo. A imprensa comprou a versão de Lena até que um portal conservador resolveu investigar e a história caiu por terra. Lena, com seus advogados, diz agora que o nome "Barry" é um pseudônimo, que as semelhanças são "uma coincidência surreal", que tem transtorno obsessivo-compulsivo e que no livro já havia avisado que não era uma fonte confiável. Não é mesmo.

Vivemos numa época em que convicções são formadas antes que se tenha tempo para um julgamento ponderado sobre as notícias. Vidas de inocentes estão sendo destruídas na velocidade das redes sociais e qualquer pedido de prudência é visto como conivência com o crime. A mentira e a gritaria histérica viraram armas da luta política extremamente eficientes num mundo hiperativo, à beira de um ataque de nervos e sem tempo para pensar.

Reputações estão sendo assassinadas em questão de minutos e não podemos nos acostumar com isso. Alexandre Borges, publicitário, é diretor do Instituto Liberal.

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