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A iatrogenia e as consequências do ato médico no futuro
| Foto: Pixabay

A tecnologia oferece contribuições para que a medicina avance em inovações para a prevenção e o tratamento de doenças. Robôs, inteligência artificial, telemedicina, dispositivos vestíveis, medicamentos, tudo em um grande manancial tecnológico. Com esses recursos tecnológicos, diagnósticos e terapêuticos, há um aumento de demandas por intervenções, e, paralelamente, cresce o risco de danos causados ao paciente como consequência do ato médico, o que chamamos de iatrogenia. Enquadram-se nesta definição todos os transtornos causados pela ação médica, além de efeitos adversos de medicamentos e complicações cirúrgicas.

Nem tudo de anormal que é identificado por máquinas tem significado clínico relevante

A iatrogenia é mais comum do que se imagina. Interpretações clínicas mal contextualizadas, produzidas a partir de sinais falso-positivos evidenciados por exames, têm se mostrado uma rotina no contexto médico. É preciso entender que nem tudo de anormal que é identificado por máquinas tem significado clínico relevante ou potencial para se expressar como uma enfermidade futura. O arsenal tecnológico pode induzir a hipervalorizar diagnósticos e desencadear intervenções desnecessárias.

Condições crônicas também requerem prudência, principalmente quando associadas à longevidade. Em pacientes com mais de 65 anos há três vezes mais risco de iatrogenia do que os que têm entre 16 e 44 anos, segundo o The New England Journal of Medicine. A maior suscetibilidade do idoso à iatrogenia se relaciona à menor capacidade funcional. São pacientes com organismos menos capazes de absorver as pressões externas. No idoso é comum o abuso no uso de medicamentos (polifarmácia), com risco de ocorrer interações medicamentosas indesejáveis, mesmo quando os remédios não são ingeridos simultaneamente.

A discussão sobre iatrogenia envolve ações individuais ou institucionais, médicas ou paramédicas; passa por questões preventivas, diagnósticas, investigativas e terapêuticas. Na medida em que são oferecidos mais recursos para o manejo das doenças, maior se torna o potencial de danos ao doente. Os cuidados básicos prezam pela visão integrada do doente e o protegem de ações iatrogênicas.

Celso Visconti Evangelista é médico com especialização em Medicina Geral e Comunitária e superintendente-médico da Qualicorp.

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