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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A inflação é um fantasma que assombra a economia brasileira. Muitos podem não entendê-la, mas a maioria sabe que seus efeitos são negativos. Inflação é, resumidamente, a alta persistente e generalizada dos preços em uma economia. Isso quer dizer, leitor, que mexe direto no seu bolso.

Segundo o IBGE, o ano de 2016 encerrou com índice de inflação de 6,29%. Mesmo sendo um índice menor que o de 2015 (10,67%), ultrapassou a meta do ano, que era de 4,5%. Quando consideramos a década de 90, os números são muito piores. Naquela época, os índices chegaram a impressionantes 1.500%. Quem viveu esse período deve se lembrar de que os preços subiam tanto que as pessoas faziam estoques de alimento em suas casas, com medo de não terem condições de comprá-los no dia seguinte.

Seria correto dizer que a inflação afeta a tudo e a todos. Digo “seria” porque, nesse caso específico, temos uma exceção: a tabela do Imposto de Renda.

A defasagem da tabela do Imposto de Renda está em 83,12% há 20 anos

Anualmente, como já é de conhecimento geral, o governo federal anuncia o reajuste correspondente à alteração dos limites de contribuição por cada alíquota do IR. Em 2017, o aumento é de 5%, número abaixo da inflação de 2016. Temos aqui um reajuste incoerente.

A defasagem da tabela do Imposto de Renda está em 83,12% há 20 anos. Isso quer dizer que, ano a ano, a correção não é feita de forma coerente, chegando a esse número gritante. Se o governo corrigisse a tabela pelos índices de inflação, estariam isentos, segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), todos aqueles que têm renda mensal de até R$ 3.460,50.

A realidade é muito diferente. Quem tem renda mensal de pouco mais de R$ 2 mil precisa declarar o IR em 2017. Sendo mais exato, quem recebeu rendimentos tributáveis cuja soma foi superior a R$ 28.559,70 no ano terá de declarar. É quase metade da renda que seria justa se a correção tivesse lógica e coerência.

A cada revisão sem a atualização da tabela, a população enfrenta um aumento de impostos indireto, como se a carga tributária brasileira já não fosse das mais altas do mundo. Como se a população já não pagasse impostos em tudo que consome. Como se o Impostômetro já não ultrapassasse os trilhões de reais.

Para o governo, não é interessante ajustar a tabela de acordo com a inflação. Afinal, em um país desigual como o nosso, e que sofre nas mãos de políticos corruptos, são poucos aqueles que têm rendimentos mensais a partir de R$ 3,5 mil. Suponho que, nesse cenário, a arrecadação cairia ferozmente e eu não consigo imaginar o governo abrindo mão de tanto dinheiro.

Já a população, como é de praxe, arregaça os bolsos para fora, paga o que não precisaria pagar e enche os cofres públicos com dinheiro que vai e muitas vezes não retorna.

Antonio Tuccílio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP).
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