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| Foto: Kmeron/Flickr

Entre os pilares da civilização ocidental está a liberdade de expressão, fundamental para proteger os indivíduos da maioria e também garantir o progresso. Vários foram os pensadores que defenderam esse valor acima de tudo, como John Milton ou Voltaire, a quem se atribui a frase “não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de o dizeres”.

A tal frase teria sido usada para defender Rousseau, que Voltaire considerava “um poço de vileza”. Defender a liberdade somente quando estamos de acordo com o que é dito não é liberdade. O verdadeiro teste vem quando precisamos defender aquele com quem estamos em total desacordo, que julgamos até mesmo execrável. Na maioria dos países islâmicos, esses dissidentes costumam ser enforcados, são tratados como infiéis que merecem a morte.

No Ocidente, essa conquista liberal veio após muita luta e sangue, e era um valor bem sedimentado. Não mais. Isso foi antes de o politicamente correto criar uma cartilha totalitária, segundo a qual todos devem jurar obediência ou arcar com as consequências. Na “revolução das vítimas” em curso, as “minorias oprimidas” podem tudo, mas ai de quem ousar discordar de uma vírgula do manual “progressista”!

O politicamente correto realmente se transformou no câncer moderno que ameaça nossa liberdade

O grau de vitimização é tanto que agora tudo é considerado “microagressão”, e qualquer um que se diga parte de uma “minoria” se sente no direito de não ficar “ofendido”. Ou seja, o outro deve se calar em nome do meu “direito” de não escutar o que não quero! E são esses que se dizem pela diversidade, pluralidade e tolerância...

O ambiente mais sagrado da liberdade de expressão sempre foi a universidade. É nela que as trocas de ideias, muitas vezes com forte paixão e produzindo mais calor que luz, devem ocorrer, para que do confronto entre opiniões divergentes se chegue cada vez mais perto da verdade.

Mas há décadas que a esquerda radical vem ocupando esse espaço, e reduzindo drasticamente o clima fértil de ideias. Busca-se, ao contrário, a hegemonia do “progressismo”, o pensamento único. E as táticas mais pérfidas são usadas para evitar um debate verdadeiro. Intimida-se o adversário, tratado como inimigo mortal, com rótulos terríveis. O uso da violência não está descartado.

Foi o que vimos quando Milo Yiannopoulos, um gay libertário que defende Donald Trump, tentou fazer uma palestra na UC Berkeley, dias atrás. Uma horda de bárbaros mascarados, armados com coquetéis Molotov, impediu a realização do evento, deixando um rastro de destruição no caminho. E eles fizeram isso em nome da “liberdade” e contra o “fascismo”!

Infelizmente, esse está longe de ser um caso isolado. Ben Shapiro, um conservador, passou mais de uma vez por isso. Palestrantes de direita normalmente sofrem mais esse tipo de ataque do que os de esquerda. Se a direita pensa que a esquerda está equivocada, a esquerda pensa que a direita é maligna. E esse monopólio da virtude tende a levar ao radicalismo: se estou combatendo o mal, então posso até usar meios condenáveis.

No Brasil, na UFMG, um grupo ligado ao PCdoB realizava um evento quando um aluno decidiu fazer uma pergunta, de forma educada, mas provocando no final com uma camisa com Bolsonaro estampado. Quase foi linchado! Outros estudantes de direita chegaram a apanhar. Os comunistas, após expulsarem à força os opositores, declararam que o “debate democrático” poderia continuar. A “democracia” de uma nota só, como em Cuba.

A liberdade de expressão é tão importante para os americanos que está logo na Primeira Emenda à Constituição, de forma bem clara. É temerário que aqueles que se dizem “liberais” e pregam a “diversidade” sejam os primeiros a colocar em risco esse pilar de nossa civilização. O politicamente correto realmente se transformou no câncer moderno que ameaça nossa liberdade.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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