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Todos nós, que passamos dos 40 anos, tivemos o “privilégio” (entre aspas mesmo!) de testemunhar diversos momentos bastante delicados e complexos na história recente do nosso país. Mas nada se compara ao que vimos no dia 16 de março de 2016. Nada mesmo.

Quando pré-adolescente, eu estudava no Colégio Sepam, em Ponta Grossa. Fazia caricaturas e lia o Pasquim. Sempre gostei de desenhar e de fazer cartuns. Principalmente dos meus professores. Muitos deles até agora não sabiam disso (e hoje sou professor!). Um dia desenhei o então ministro da Fazenda, que na época era o Delfim Netto, e o presidente João Figueiredo. Eles eram muito fáceis de serem caricaturados. O Delfim eu fiz como uma baleia comprimindo o povo brasileiro; o Figueiredo, com óculos metálicos muito proeminentes, indiferente a tudo o que acontecia. Mostrei ao meu pai. Achei que ele ficaria muito orgulhoso de seu filho. Surpreendentemente, para mim, ele apenas me disse: “Cicero, estão muito bem feitos. Mas não mostre para ninguém”. Assim era o fim da ditadura. Um misto de medo e insegurança.

Sou professor de Ética. Cheguei a um ponto em que não sei mais o que ensinar aos meus alunos. Não sei o que dizer aos meus filhos

Morre, então, Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral, de maneira indireta, para presidente da República. E com ele ficou um grande vazio. Todos choramos ao som de Fafá de Belém, cantando o hino nacional, em uma versão apócrifa. Não tivemos aula naquele dia. Sarney assume. Hiperinflação e desemprego. Crise, Plano Cruzado, fiscais do Sarney... Com meu pai, que recebia seu salário de professor, íamos todos os meses ao supermercado para fazer o famigerado “fornecimento”. Comprar tudo aquilo que deveríamos consumir durante o mês. Todos, ou quase todos, fazíamos isso. O poder de compra era reduzido diariamente. Sem contar o encher o tanque de gasolina do nosso carro no fim de semana, antes do aumento da segunda-feira!

Vieram, então, as eleições diretas para a Presidência da República. A primeira depois da ditadura. O “caçador de marajás” Fernando Collor de Mello era a grande esperança em um país “recém-democratizado”. Ele era jovem, atlético e prometia, tal qual um Mussolini das Alagoas, mudanças para um país novo. Lula, já presente naqueles anos, perdeu sua primeira eleição. Lurian, sua filha, foi a protagonista em sua derrota. O Brasil não estava pronto para o PT, nem para o seu Macunaíma. Collor confiscou a poupança de todos. Caiu, finalmente, em meio a um mar de lama de corrupção, junto com a sua Fiat Elba. Morre PC Farias, em circunstâncias nebulosas. Collor, então, cai.

Ética, meus amigos, é uma ciência categoricamente normativa. Ela estuda os atos humanos à luz da razão. A sua origem grega tinha o significado de “morada”. Perfeito mesmo! Afinal, a nossa casa é onde nos sentimos seguros, transparentes e menos vulneráveis. Já a palavra “moral”, que é de origem latina, significa costume. Vem com Gregório Magno, ao comentar o Livro de Jó. Ética, assim, seria a ciência que estuda os costumes. É, dessa forma, maior que a moral.

Brasileiros, estamos todos, sim, em uma grande crise política. Estamos também em uma grave crise econômica. Mas a maior crise que temos é a moral. É a verdadeira crise dos costumes. A mãe de todas as crises. Da falta de decência e da vergonha, de Lula, Dilma, Cunha, Renan... Eu sou professor de Ética. Cheguei a um ponto em que não sei mais o que ensinar aos meus alunos. Não sei o que dizer aos meus filhos. Não sei mais o que dizer a vocês, leitores. Sinto muito!

Cicero Urban, médico oncologista e mastologista, é professor de Bioética e Metodologia Científica no curso de Medicina e na pós-graduação da Universidade Positivo e vice-presidente do Instituto Ciência e Fé.
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