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| Foto: Saul Loeb/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realmente vem cumprindo suas promessas de campanha e as transformando em decretos. O primeiro arroubo nacionalista foi o fim do Acordo Transpacífico (TPP), um enorme esforço de cooperação econômica que envolveria mais de uma dezena de nações da Ásia e Américas. Trump simplesmente jogou no lixo um acordo que impactaria positivamente a economia americana em mais de US$ 130 bilhões por ano, segundo estimativas do Peterson Institute for International Economic, proeminente think tank americano.

Na cabeça de Trump, o acordo não iria exportar produtos para esses países e sim empregos, uma vez que os Estados Unidos passariam a importar mais do que exportar para essas nações. Acreditar nisso é um erro tremendo. Pode até ser que empregos de baixa produtividade na indústria americana fossem transferidos para essas nações. E seriam poucos, pois esse processo já aconteceu com intensidade nas últimas três décadas e muito dificilmente será revertido. O acordo iria beneficiar a parte mais rica da economia americana, os trabalhadores da manufatura de alta tecnologia e do setor de serviços – ou seja, beneficiaria empresas como Boeing, Google, Oracle, Amazon e muitas outras que produzem bens e serviços de alto valor agregado. Em resumo: o TPP significaria um impulso notável no crescimento da produtividade da economia americana e um impacto marginal nos trabalhadores de setores menos tecnológicos.

As decisões dos agentes econômicos são muito mais complexas que a força da caneta presidencial

Outro importantíssimo aspecto do comércio global em tempos atuais é que nenhum país produz nada sozinho. A Boeing produz as asas do seu jato 787 no Japão, a cauda na Itália e uma série de outros componentes ao redor do mundo. Será que o motivo é custo? Sim e não, porque esses países têm uma maior expertise na manufatura dessas peças, o que acaba por reduzir o preço. Se a Boeing quiser continuar a ser líder no mercado, precisa transacionar com os melhores fornecedores onde quer que estejam. E as lideranças políticas precisam entender essa dinâmica. Isso não vale apenas para aviões complexos: roupas, carros, smartphones e até mesmo brinquedos de plástico – todos se beneficiam dessa cadeia de trocas globais.

Além dos ganhos econômicos, o TPP intensificaria a relação diplomática dos Estados Unidos com diversos países da Ásia e do Pacífico, diminuindo a crescente capacidade de influência chinesa. Com o fim do TPP, a China começa a movimentar seus próprios acordos de comércio na região, agora sem a participação americana.

Trump precisa entender a importância do comércio global para a economia americana. Abandonar um acordo benéfico como o TPP apenas por abandonar não é uma decisão inteligente. Sem contar a briga estúpida com o México, enorme parceiro comercial, que não vai gerar benefícios para o povo americano, mas apenas mais custos, com produtos chegando mais caros para os consumidores americanos.

A imposição de tarifas de importação não vai fazer com que as empresas que produzem fora dos Estados Unidos simplesmente transfiram suas fábricas de volta. As decisões dos agentes econômicos são muito mais complexas que a força da caneta presidencial.

Victor Candido de Oliveira, mestrando em Economia pela UnB, é pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV-RJ e editor do site Terraço Econômico.
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