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Na primeira entrevista coletiva do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva brincou com as palavras na badalada facilidade do seu improviso, encaixando piadas e frases de efeito nas respostas aos jornalistas sorteados.

Na escalada das afirmações categóricas, com o tempero da ênfase, chegou ao alto do morro no reiterado desmentido às pretensões ao terceiro mandato, bloqueado pela pedreira da emenda constitucional e, um tom acima, na peremptória negativa às suspeitas da barganha de cargos do ambicionado segundo escalão pelo apoio do PMDB – por mais que deseje a integração da legenda, de sólida tradição de coerência, ao bloco majoritário, o que garante o controle do Congresso além de outras serventias.

Lula engrossou a voz: "Não existe votação por nomeação de cargo. Quem quiser votar contra, atrás de nomeação de cargo, pode votar contra".

A frase ficou um pouco torta na repetição do recado, talvez pela passageira irritação presidencial. Depois de tomar fôlego, amenizou o puxão de orelha sem sair do trivial: "Os partidos políticos da base precisam ocupar os cargos que podem ocupar, mas não pode ser essa a condição "sine qua non" para que a gente monte essa coalizão".

O recado tinha endereço legível em letras graúdas e o seu destinatário só podia ser mesmo o PMDB, em cócegas de impaciência com a demora na nomeação dos adesistas aos cargos que sobram no governo em que, como coração de mãe, cabem todos.

Mas as palavras, como as folhas secas, o vento leva no balé da vida. E em cima do laço, sem dar tempo ao esperneio do desassossegado, parceiro atraído com tanta parolagem e promessa, o precavido presidente convocou o deputado Michel Temer, presidente do PMDB, para a longa e proveitosa conversa em seu gabinete do Palácio do Planalto.

Conversa a dois, de porta trancada. Precaução desnecessária: Lula não chamou o deputado Michel Temer para discutir o rateio do pacote de cargos de segundo escalão. Mas, com a prodigalidade de dono da casa mão aberta, servir ao novo aliado com o que tinha de melhor. De uma tacada, oito cargos entre os mais disputados. Picuinhas de ranhetas – que vivem criando embaraços ao apontar deficiências e incompatibilidades entre cargos técnicos e o currículo dos especialistas em coisa nenhuma – foram sumariamente descartadas. Nem se falou no assunto: Lula bateu o martelo, na próxima semana todas as nomeações serão publicadas no Diário Oficial.

Ao deixar o Planalto como quem pisa em nuvens, o deputado Michel Temer repassou a boa nova para os repórteres – cautela nunca fez mal a ninguém. O preto no branco: "O presidente Lula quer integrar definitivamente o PMDB no governo. E me disse que vai tratar pessoalmente da indicação de Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio, para a presidência de Furnas".

Ora, Furnas, sem mais nada, já saldaria o apoio do PMDB ao governo. E é apenas a jóia da coroa. Com os futuros diretores já indicados, o PMDB emplacará a presidência da Conab, a vice-presidência de Agronegócio e a diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil; a vice-presidência de Desenvolvimento Urbano e a vice-presidência da Caixa Econômica Federal; a diretoria internacional da Petrobrás e a diretoria da BR distribuidora. Oito pitéus dignos de um banquete de nababo.

E não foi só. Nas preliminares da baldeação, para estimular o apetite, o PMDB emplacou três nomeações de peso: do baiano Orlando Castro para a presidência da Codevasf; do ex-deputado estadual do Rio Grande do Norte, Elias Fernando, para a presidência do DNOCS e de Danilo Fortes para a presidência da Funasa.

Desconfio que o PT deve estar roendo as unhas de inveja. Villas-Bôas Corrêa é jornalista.

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