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A proibição de anúncios políticos no Twitter só vai piorar as coisas
| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Recentemente, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, anunciou que a plataforma não veiculará publicidade política de nenhum tipo. O Twitter é uma companhia privada e tem o direito de adotar o procedimento que quiser, mas essa decisão não ajuda o debate civilizado, nem nossa “infraestrutura democrática”, como alega Dorsey.

Ao defender a medida, Dorsey criou uma dicotomia maniqueísta entre a audiência “conquistada” por mérito e o conteúdo pago e enganador. Essa dicotomia, além de superficial, é ela mesma enganadora.

Por um lado, ele está certo ao dizer que, sem anúncios pagos, “a mensagem política repercute quando as pessoas decidem seguir ou retuitar uma conta”. Mas Dorsey não faz a pergunta seguinte – e óbvia: como as pessoas “conquistam” seus seguidores no Twitter?

Os políticos que normalmente dominam a audiência no Twitter são de dois tipos: gente que tem mandatos eletivos há muito tempo, como a deputada democrata Nancy Pelosi (3,3 milhões de seguidores), ou incendiários que seguem o zeitgeist, como a também deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez (5,7 milhões de seguidores).

A verdade é que, sem a possibilidade de pagar por publicidade, as novas vozes terão muito mais dificuldade em ser ouvidas, a não ser que entrem nas polêmicas e baixarias que atraem seguidores no Twitter. Se você é um deputado ou senador moderado, sem um papel de liderança proeminente, o Twitterverso não o receberá de braços abertos.

Tentativas de censurar ou eliminar o discurso político pago são um remédio bem pior que a doença que ele pretende combater

Jason Timm, linguista da Universidade do Novo México, analisou recentemente a audiência e o registro de votações de cada senador da 115.ª legislatura. Ele descobriu que, quanto mais próximo um candidato está do centro político, menos seguidores no Twitter ele costuma ter.

Ter uma caneta venenosa ou uma retórica mordaz não tem nada de errado em si mesmo, mas esses não são os únicos talentos de que precisamos para que um regime político funcione bem. Há momentos e estágios do processo político em que uma abordagem mais ponderada e pragmática também é útil. Washington precisa de Ted Cruzes (3,46 milhões de seguidores no Twitter), mas também precisa de John Thunes (95 mil seguidores). Mas, no Twitter, as pessoas tendem a orbitar mais em torno daqueles que destes. Declarações enfáticas e posições arraigadas geram atenção, manchetes e retuítes. As vozes moderadas ficam sufocadas e são ignoradas.

Os anúncios pagos são uma forma de centristas mais pragmáticos, que normalmente tendem a ser escolhas confiáveis para muitos doadores ricos, colocarem seus nomes e ideias no debate público.

Além disso, usuários de mídias sociais são propensos a seguir pessoas que já conhecem e com as quais concordam. Essa tendência transforma plataformas como o Twitter em bolhas ideológicas para a maioria dos usuários. O fato de as pessoas poderem selecionar cuidadosamente o que veem significa que elas são expostas a uma parte muito pequena do espectro político e que tende a corroborar as próprias visões, o que é muito reconfortante.

É verdade que, como afirma Dorsey, os anúncios políticos “forçam as pessoas a ver” uma mensagem que elas não escolheriam voluntariamente. Mas isso não é necessariamente ruim. Afinal, a publicidade política pode ser uma das únicas formas de romper as bolhas ideológicas (e que normalmente são bastante radicais) cuidadosamente construídas pelos usuários.

Por mais que os anúncios políticos sejam intencionalmente dirigidos a audiências que já sejam receptivas à mensagem, esse tipo de esforço tem mais de arte que de ciência. Um caso pessoal: eu mesmo – funcionário da Heritage Foundation, dono de arma, ex-militar e membro do Partido Republicano por muitos anos – vejo muito mais conteúdo pago de esquerda que de direita nas mídias sociais. E acho que não sou o único.

Se Dorsey acha que o que Washington precisa é de mais incendiários ideológicos, bolhas discursivas e líderes partidários mandões, então é por aí mesmo e o Twitter jamais deveria veicular publicidade política novamente. Mas, se ele acha – como a maioria dos americanos – que as plataformas partidárias polarizadas e a retórica feroz foram longe demais, ele deveria repensar. E, se ele estiver procurando uma abordagem mais sensata para a questão dos anúncios políticos, nem precisa ir muito longe. O Facebook (cuja sede fica a 15 minutos de trem dos escritórios do Twitter) está anos-luz à frente do Twitter nesse quesito.

Ao contrário de Dorsey, Mark Zuckerberg decidiu que sua plataforma não apenas continuará veiculando anúncios políticos, mas também que eles não estarão sujeitos aos procedimentos de checagem, censura ou policiamento que os democratas estão pedindo. Justiça seja feita, Zuckerberg tem mantido essa postura pró-liberdade de expressão mesmo com a pressão do Comitê Nacional Democrata, da imprensa esquerdista e de uma tentativa de humilhação pública na forma de uma audiência no Congresso.

É claro que o Facebook está longe de ser perfeito. Também ele recompensa a retórica feroz e facilita a balcanização ideológica. Mas Zuckerberg e os demais diretores do Facebook perceberam que tentativas de censurar ou eliminar o discurso político pago são um remédio bem pior que a doença que ele pretende combater.

O executivo do Facebook e ex-político britânico Nick Clegg acertou na mosca quando disse que não cabe ao Facebook “impedir que as ideias de um político alcancem sua audiência e estejam sujeitas ao escrutínio e ao debate público”. E acrescentou: “em democracias abertas, os eleitores acreditam, e com razão, que deveriam ser capazes de julgar por si mesmos aquilo que os políticos dizem”.

John York, Ph.D., é analista político no B. Kenneth Simon Center for Principles and Politics, na Heritage Foundation. Tradução: Marcio Antonio Campos.

© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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