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A União Nacional dos Estudantes (UNE) é praticamente um símbolo da democracia brasileira, desde que foi fundada, há 80 anos. A primeira imagem que se tem da UNE é a da resistência dos estudantes à ditadura militar de 1964 a 1985, que levou à prisão, tortura e assassinato de seus militantes. Mesmo assim, a juventude não se calou e conseguiu derrubar o regime. Meio século depois, com a manifestação dos mesmos setores conservadores que levaram ao golpe militar daquele tempo e com o crescimento da intolerância no país, a UNE virou novamente alvo. Os motivos são os mesmos de outrora.

O movimento estudantil organizado tem sido um dos principais protagonistas na denúncia da pauta conservadora que assolou o Congresso Nacional desde as últimas eleições, capitaneada pelo líder corrupto e fundamentalista Eduardo Cunha, o mesmo que dirigiu o impeachment ilegal e sem provas da presidente Dilma Rousseff. Personagens como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e outros que têm atacado a UNE, chegando a propor uma CPI para intimidá-la, reconhecem e temem a força do movimento estudantil em momentos de turbulência democrática como o que vivemos hoje.

Não vingará a tentativa de calar os estudantes que estão nas ruas de norte a sul

A universidade brasileira precisa chegar ao século 21

Como legítima herdeira da virtude, a UNE se sente no direito de utilizar a máquina legal do Estado brasileiro para impor opiniões próprias

Leia o artigo de João Filippe Rodrigues, coordenador do movimento Unesp Livre

A UNE recentemente marcou forte posição contra projetos totalmente atrasados da bancada conservadora, como a redução da maioridade penal; o Projeto de Lei 5.069, que retira direitos das mulheres; as terceirizações que desmontam a legislação trabalhista; a falsa reforma política, que prioriza os interesses das empresas financiadoras das campanhas eleitorais; e a retirada dos debates sobre gênero e diversidade sexual no Plano Nacional de Educação.

Foram também os estudantes os primeiros a enfrentar publicamente o tirano Eduardo Cunha dentro dos seus domínios, ao ocupar as galerias da Câmara, durante uma de suas votações manipuladas, e avisar em alto e bom som que sua hora iria chegar. A primeira retaliação contra a UNE foi proibir ditatorialmente sua entrada no Congresso, o que só foi garantido com liminar do Supremo Tribunal Federal. A segunda resposta do ex-presidente da Câmara foi validar o pedido da tal CPI da UNE como uma manobra desesperada, justamente no dia em que foi afastado pelo mesmo STF.

O uso da comissão de inquérito para perseguição política do movimento estudantil não é uma medida inédita. Em 1963, às vésperas do outro golpe que assolou a democracia, a UNE, presidida pelo então estudante José Serra, foi alvo da mesma ofensiva. A CPI da UNE naquela época, com objetivos e justificativas praticamente idênticos aos de hoje, foi conduzida por grupos de extrema-direita, incluindo apoiadores do nazismo de Adolf Hitler no parlamento nacional. O resultado desse movimento foi a Lei Suplicy de Lacerda, de novembro de 1964, que extinguiu as entidades estudantis e deu início à mais sanguinária perseguição do Estado brasileiro contra sua própria juventude.

Dessa vez, contudo, não terão sucesso. Não vingará a tentativa de calar os estudantes que estão nas ruas de norte a sul denunciando a punhalada contra a democracia. Não encontrará êxito a tentativa de amordaçar os jovens que ocupam escolas em todos os estados, que montam comitês universitários de resistência, que se juntam aos movimentos sociais para ir às ruas, às redes sociais, a todos os espaços defender o Brasil. Como diz o nosso hino, a UNE é nossa voz. Golpistas, preparem-se para ouvi-la cada vez mais alto.

Carina Vitral é presidente da UNE.
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