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A revolução socialista é inimiga da liberdade religiosa
| Foto: Pixabay

Defender o brocardo do Estado laico como sinônimo de Estado ateu é uma herança da incompatibilidade entre socialismo e liberdade religiosa. O pensamento revolucionário utilizou-se do poder da repressão para tolher o sentimento religioso, e agora trabalha por meio do discurso e da desobediência civil. Longe de ser uma teoria da conspiração contra o comunismo, a história nos mostra a natureza da revolução marxista. O pilar confessional da União Soviética era o ateísmo radical, conforme afirma Paul Frose: “A chegada do comunismo soviético no início do século 20 mudou drasticamente as relações Igreja-Estado nos territórios que estavam sob sua influência. O comunismo era único porque era a primeira ideologia política que não era apenas anticlerical, mas também defendia uma visão de mundo ateísta radical.”

Trata-se da premissa do messianismo político-revolucionário: o Estado substitui o Messias da religião cristã. A metodologia revolucionária derruba a liberdade científica para que a Academia pesquise e debata apenas o que está debaixo de um mesmo plano, e é adversa à liberdade religiosa, por toda influência que ela produz nas civilizações. “O que de fato foi criado por Marx foi uma nova organização ecumênica, uma espécie de anti-Igreja, com um aparato completo de conceitos e categorias, capaz, pelo menos em teoria, de fornecer respostas claras e finais a todas as questões possíveis, privadas e públicas, científico e histórico, moral e estético, individual e institucional”, afirma Isiah Berlin em The sense of reality.

Assim como o corpo teórico do Cristianismo contém determinações para um governo justo, transparente e que viabilize emprego, renda, segurança e liberdade, no socialismo uma das principais determinações está no combate à religiosidade cristã, já que na maioria das pautas que abomina (liberdade econômica, legítima defesa, fim dos privilégios) a ligação com a fé em Cristo é imensa. O período stalinista foi marcado pelo confisco de propriedade das igrejas e por torturas contra crentes ortodoxos em campos de trabalhos e hospitais psiquiátricos. Em suma, é impossível promover uma revolução socialista e a liberdade religiosa. Como lembra, ainda, Frose: “o ateísmo militante tornou-se central para a ideologia do Partido Comunista e uma alta prioridade nas políticas de todos os líderes soviéticos. Além de responder à questão de como a sociedade deve ser organizada, o comunismo defendeu a destruição de toda a religião. Dentro da lógica do ateísmo militante, os ateus convencidos não eram apenas os mais politicamente astutos, mas também os indivíduos mais virtuosos”.

Quando afirmo a incompatibilidade entre revolução socialista e liberdade de crer, não puxo sardinha para a religião cristã. Assim como liberdade religiosa vale para todas as organizações religiosas e confissões de fé, a marcha revolucionária estava comprometida em acabar com qualquer religião, inclusive o Islamismo: “no final da década de 1920, Stalin decidiu que a Ásia Central precisava ser expurgada do Galiyevismo. Esta decisão (...) é apoiada por inúmeros escritos anteriores de Lenin e Stalin, que expressaram o desejo de eliminar o Islã, reconhecendo a importância de recrutar muçulmanos potencialmente para dar apoio à sua causa”.

Também vale relembrar a Itália mussolinista, com a implantação de leis contra judeus. O modelo de governo era severamente contrário à liberdade religiosa, proibindo os judeus de possuir empresas, terrenos e imóveis, sob o argumento de evitar uma alegada prejudicial influência econômica e intelectual dos judeus.

Ignorar as experiências do passado também faz parte da metodologia socialista. A estratégia marxista de falar sobre o passado como algo que não deve ser visitado tem por objetivo retirar a simples capacidade de confrontação, pois, ao fazê-lo, a constatação é imediata: socialismo mata, destrói e arruína nações.

Em pleno século 21, ou melhor, em pleno mês de dezembro de 2019, ainda encontramos tweets como o de um professor da Universidade Federal Fluminense, defendendo que os evangélicos deveriam ser mortos a tiros. O leitor certamente não vai encontrar nenhum pensador socialista se retratando em nome da esquerda brasileira, ou ao menos indicando que esse pensamento é um “excesso”. Apenas silenciam – das duas uma, ou por negligência, ou por consentimento. Fica a pergunta: qual a garantia que nós temos de que o retorno ao status de esquerdismo de “ponta a ponta” vai favorecer o Brasil econômica, cultural, social, e principalmente, religiosamente?

Thiago Rafael Vieira, advogado pós-graduado em Direito do Estado e em Direito Constitucional e Liberdade Religiosa, é presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião.

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