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Bolsas de valores, sociedades corretoras, instituições financeiras. Todos esses termos são bem comuns no sistema capitalista, que trouxe o mercado de capital para um papel cada vez mais protagonista dentro de todo o processo de desenvolvimento da economia mundial. Junto com a importância, veio também uma reflexão global sobre a ética nesse mercado, que constantemente é atingido por especulações, altas e baixas, e diversas situações que fazem sumir e ressurgirem grandes grupos econômicos, mas ao mesmo tempo provocam grande desequilíbrio nas relações entre fornecedores, consumidores e investidores.

Em meio a tantos altos e baixos, com a globalização e o compartilhamento de informações, esse mercado de capitais passou a se preocupar cada vez mais com a transparência e, acima de tudo, com a divulgação dos fatos relevantes. Foi aí que a partir do final dos anos 90 viu-se o aumento do debate sobre as questões que giram em torno da ética empresarial, com foco muito grande em responsabilidade social e ambiental.

De repente, os investimentos de longo prazo passaram a ganhar espaço tendo como principais argumentos a aquisição de valores por parte das empresas. Foi então que esse tema se materializou no mundo corporativo dos capitais, tornando-se realidade para o mercado, com a criação do Dow Jones Sustainability Index (DJSI) em 1999, pela Bolsa de Nova York. Este indicador global de performance financeira desencadeou outras iniciativas nos principais mercados do mundo. Em 2001, Londres lançou o FTSE4Good; em 2003, o JSE surge em Joanesburgo, África do Sul. O Brasil também percebeu a importância do tema sustentabilidade e foi o quarto país do mundo a lançar em sua principal Bolsa de Valores, a BM&FBOVESPA, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), no ano de 2005.

As empresas não necessitam investir em sustentabilidade somente quando há sobra de recursos

Agora, o que se vê é um novo movimento acerca dos mercados de capitais: a percepção da sustentabilidade para os investidores, um ator-chave neste cenário que ainda não tinha sido fortalecido. Exemplo disso é uma agenda global que está em curso, como o programa Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede internacional de investidores trabalhando juntos para colocar os seis princípios do investimento responsável em prática.

Conceitualmente, o termo investimento sustentável e responsável (ISR) é definido pela European Sustainability Forum (Eurosif) como um processo de investimento que alia os objetivos financeiros do investidor com suas preocupações e valores acerca do meio ambiente, da sociedade e de questões de governança (Environmental, Social and Governance – ESG).

Estudos do Sustainable Investment Forum (SIF) para a Europa e Estados Unidos, pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) na pesquisa Sustainability Nears a Tipping Point e pelos relatórios do Principles for Responsible Investment (PRI) apontam para o crescimento do mercado de ISR nos Estados Unidos de 22%, entre 2009 e 2012, ou de 486%, desde a primeira mensuração, em 1995. Esses estudos apontam ainda que dentre 4 mil executivos de 113 diferentes países, 70% afirmavam ter adotado permanentemente a sustentabilidade na sua estratégia empresarial. Ainda que, dentre os gestores de ativos norte-americanos que incorporam o novo tripé ambiental-social-governança corporativa, 72% citaram como principal motivo a demanda de seus clientes por valores próprios.

Leia também: Por que a família é essencial para a sustentabilidade de todo o sistema social? (artigo de Lígia Miranda de Oliveira Badauy, publicado em 18 de outubro de 2018)

Leia também: Avanços e retrocessos da sustentabilidade no Brasil (artigo de Felipe Faria, publicado em 22 de setembro de 2018)

Isso demonstra que ao contrário do que muitos acreditam, as empresas não necessitam investir em sustentabilidade somente quando há sobra de recursos, mas sim que as práticas de sustentabilidade contribuem para a sua rentabilidade.

Por isso que acreditar nos valores que a sustentabilidade traz consigo, bem como entender que a inovação para a sustentabilidade agrega muito para as empresas, pode auxiliar neste processo gradativo de transformação das empresas. É a sociedade transformando seus valores em exigências de comportamento para investidores e empresários, fazendo realidade a instauração de um mercado sustentável e empresas cidadãs.

Glauco Requião, CEO do Postura Sustentável, é advogado e consultor em Sustentabilidade.
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