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Anúncio foi dado nesta sexta (07) pelo vice-ministro da Saúde do país. Especialistas ressaltam falta de dados e transparência
| Foto: Bigstock

O caldo das pústulas dos bois injetado em humanos, a famosa vacina contra a varíola tornada obrigatória por Osvaldo Cruz em 1904, foi um marco histórico no Brasil. À boca miúda, o povo dizia que quem fosse vacinado tomaria a forma das vacas. Sendo lei desde 1937 para crianças e 1846 para adultos, a lei não era cumprida, e só 1884 é que a vacina começou a ser produzida em escala. Com a iniciativa de Osvaldo Cruz – o que gerou a revolta do povo e da academia militar – para conseguir trabalho, escola, autorização para casar e viajar, os indivíduos tinham que comprovar serem vacinados

Mas, como em todas as repúblicas minimamente educadas, cuja liberdade é a razão de ser do cidadão, qualquer ameaça a essa liberdade seria combatida. E foi.

O episódio conhecido como “Revolta da Vacina” levou o povo às ruas, protesto e quebra-quebra por parte daqueles que não admitiam ser forçados a receber a vacina. Claro que, em meio a isso, houve questões políticas e ideológicas, como sempre. Até uma liga contra a vacinação obrigatória foi criada em 5 de novembro daquele ano, levando milhares às ruas – principalmente no bairro chamado Saúde -, os quais foram contidos pelo exército.

Os registros dão conta de 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos nesta revolta que durou ao menos duas semanas, fazendo Rodrigues Alves abandonar a ideia da vacinação obrigatória. Isso só veio a mudar em 1908, época em que o Rio sofre com a mais violenta epidemia de varíola da história. Aí, então, o povo corre em busca da vacina.

Mas se isso pertence a um passado obscuro em nossa nação, o que dizer de países como os EUA, por exemplo, onde estados como o da Carolina do Norte contam com uma comunidade bastante ativa no combate à vacina – ou sua obrigatoriedade –, trazendo como saldo o maior surto de catapora do estado em décadas. A questão não é somente religiosa, mas ideológica também, onde principalmente os pais mais radicais não querem o estado dizendo como devem viver.

O grande problema disso tudo é que a maioria da população que recebe as vacinas é obrigada – eles sim – a ver seus filhos estudarem junto com os não vacinados, ainda que estudos indiquem a eficácia das vacinas. Essa guerra faz com que, todos os anos, milhares de pessoas busquem os meios jurídicos para que seus filhos sejam dispensados da obrigatoriedade de se vacinarem. Segundo o CDC, ao ser autorizada nos EUA, a vacina contra a catapora e a imunização evitou 3,5 milhões de casos da doença, 9 mil internações e 100 mortes anualmente no país.

Agora estamos em 2020, nosso problema hoje é a Covid-19, que tem levado a morte mais de 700 mil pessoas (dados deste 7 de agosto). Aliás, eu diria que nosso problema é o tempo e o dinheiro. Tempo que é necessário para o desenvolvimento e distribuição de uma vacina, dinheiro que é necessário para o investimento na descoberta dessa vacina. Enquanto estas duas coisas não chegam a um consenso razoável, mais gente vai perecendo.

Diferente da “Revolta da Vacina” de Osvaldo Cruz, o médico sanitarista, o Osvaldo Cruz de hoje – fundação voltada a descoberta da cura para o vírus – não enfrenta nenhuma contrariedade ao uso de vacinas. Do contrário, a população pede velocidade na descoberta de uma vacina eficaz contra esse vírus letal. Seja de Oxford, da China, Rússia ou de qualquer continente, o que se espera é que venha logo. Mas se a discussão sobre o direito a escolher ser vacinado ou não permanecer, num mundo em que assintomáticos acabam sendo veículos de transmissão, o problema passa a ser mais sério do que imaginamos. Onde a cultura e desinformação prolifera, se multiplica a doença e a morte a olhos vistos.

À beira da morte, até mesmo medidas inconcebíveis e desesperadas, como a que pretende o prefeito de Itajaí, passam a ser recebidas como uma boa solução. Aplicação de Ozônio no reto. Só que não. Deveria haver um lugar para nos refugiarmos de explosões, acidentes e pandemia, mas a maior certeza é que teremos que ficar aqui até o fim, o nosso fim pelo menos.

Luiz Dias é pastor e escritor. Autor dos livros “Das janelas”, “Poesia, enigmas – e algo mais”, “Ganav”, “A História do Ladrão da Cruz” e “Sinais de Vida na Igreja”.

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