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Há uma genuína relação entre Filosofia e Verdade. Em diferentes épocas, muitos homens construíram diferentes narrativas e distintas “verdades” a respeito do mundo e das coisas que exigem dentro e fora do mundo. São verdades que tentam e que, em certo sentido, dão sentido ao mundo, ainda que seja apenas ao mundo de alguém.

É de conhecimento público que a atividade (arte) filosófica, desde a sua origem em solo grego antigo, tem se ocupado com a excitante questão da Verdade. Quando Tales de Mileto anunciou de forma inédita que “Tudo é água”, tal afirmação, aparentemente ingênua para um leitor apressado, escondia uma verdadeira revolução que rendeu a esse pensador o título de Pai da Filosofia. “Tudo é água” representa a busca pela verdade que, a partir daquele instante, se direciona para uma investigação cosmológica, deixando de lado, paulatinamente, o discurso cosmogônico. De lá pra cá muita coisa mudou, mas a busca pela Verdade continuou sendo o propósito que une os amantes da Filosofia.

Entretanto, uma questão se impõe: “O que é a Verdade?” É essa a angústia suprema a ser respondida pelos filósofos e por suas filosofias. Mas a resposta não parece evidente. Foi essa mesma pergunta que Pilatos fez a Jesus, durante seu julgamento. Frente ao questionamento, Cristo calou-se, apenas o silêncio como resposta. Por mais paradoxal que possa parecer, o silêncio é uma palavra retumbante, que ecoa ressoante, mas que custa a ser compreendida pelos ouvintes. E, por quê?

O filósofo é aquele que ama a sabedoria e que busca a verdade, mas que, simultaneamente, tem consciência de que não a possui. É um amante, não um possuidor do objeto amado.

A pergunta é mais importante que a resposta, e o motivo é compreensível: uma vez solucionada a questão, a própria razão de ser da filosofia findaria. Não seria mais necessário filosofar. O filósofo é aquele que ama a sabedoria e que busca a verdade, mas que, simultaneamente, tem consciência de que não a possui. É um amante, não um possuidor do objeto amado. É justamente essa ausência que move os filósofos. O desejo de encontrar a verdade, mesmo sabendo que a verdade, como tal, jamais poderá ser encontrada, tampouco possuída. Trata-se de um amor platônico, no sentido mais literal da expressão.

Wittgenstein, filósofo austríaco do século 20, apresentou sua última proposição tractariana com a seguinte afirmação: “Sobre o que não se pode falar, deve-se calar.” Trata-se da exigência do silêncio como uma atitude genuinamente filosófica. O mesmo silêncio do Cristo diante de Pilatos: um silencio denso, que fala mais que qualquer palavra. A filosofia é a arte dos contrários. Uma análise da dualidade entre o tudo e o nada, a vida e a morte, o querer e o dever, o amor e o ódio, o ser e o não ser, como já dizia Shakespeare, em Hamlet. É na dialética dos contrários que a filosofia fala, e é no contrário da fala que a verdade, tão desejada pela filosofia, se revela.

Edimar Brígido é mestre e doutorando em Filosofia pela PUCPR.
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