Fomos eleitos para o Conselho Federal de Medicina (CFM) com o respaldo inequívoco de dezenas de milhares de médicos que, em um pleito limpo e transparente, confiaram em nossa capacidade de representar seus interesses.
Esse apoio massivo não pode ser desconsiderado ou minimizado. No entanto, a oposição, que goza de acesso privilegiado à grande mídia, tem utilizado esses canais para desferir ataques difamatórios, não apenas contra nossas vitórias legítimas, mas contra todo o corpo de profissionais médicos que representamos.
Acusações infundadas de charlatanismo, ignorância e negacionismo são lançadas com uma frequência alarmante, em um esforço claro e coordenado para nos deslegitimar e confundir a opinião pública.
A população, muitas vezes mal informada, pode ser levada a acreditar que os eleitos para o CFM do Rio de Janeiro e São Paulo são indivíduos despreparados e irracionais. Urge, portanto, esclarecer quem realmente somos.
Raphael Câmara é médico ginecologista-obstetra, com doutorado e mestrado, reeleito para o CFM devido ao trabalho que realizou nos últimos cinco anos. É concursado da UFRJ, com dezenas de artigos publicados em revistas nacionais e internacionais de renome, e já exerceu os cargos de Secretário Nacional de Atenção Primária do Ministério da Saúde e Ministro Substituto da Saúde. Entre os cinco candidatos do Rio de Janeiro, nenhum possuía um currículo acadêmico à altura.
Francisco Cardoso, eleito por São Paulo, é médico formado pela UFRJ com diploma de dignidade acadêmica Cum Laude, infectologista pelo maior hospital de infectologia da América Latina, o Emílio Ribas de São Paulo, onde é concursado como médico assistente efetivo da UTI. Também é Perito Médico Federal, Diretor da Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais e adviser em biossegurança da OEA durante a pandemia.
A verdadeira politização do CFM não emana de nós, que fomos eleitos de maneira democrática para representar nossos pares, mas sim daqueles que, rejeitados nas urnas, manipulam a narrativa midiática.
A cobertura recente da mídia, especialmente de veículos de grande alcance como O Globo, ilustra perfeitamente como a imprensa pode se tornar um instrumento de desinformação e parcialidade.
Ao nos rotularem como "Doutores de Direita", não apenas simplificam de forma grotesca nossa posição, como também tentam nos demonizar por nossas convicções, enquanto tratam nossos opositores com uma complacência injustificável.
Alguém imaginaria, caso fosse o contrário, um título como "Doutores de Esquerda"? Durante décadas, as entidades médicas foram dominadas por um viés de esquerda, e isso nunca foi motivo de questionamento. Somente quando o PT destruiu a medicina brasileira, através do programa Mais Médicos e da Lei do Ato Médico, retirando prerrogativas fundamentais da profissão, a questão passou a ser problematizada. Apesar disso, os médicos sempre foram majoritariamente conservadores, defendendo a vida e se opondo, por exemplo, ao aborto.
Médicos estudam para salvar vidas, nunca para interrompê-las
A grande mídia cobriu a eleição tratando os candidatos progressistas como santos e os conservadores como demônios, colocando em risco nossa segurança pessoal.
A exposição contínua de nossas imagens em todo o país nos tornou alvos de haters e ameaças, tanto nas redes sociais quanto na vida real.
A médica Ligia Bahia, da UFRJ, em entrevista, chegou a afirmar que Raphael Câmara, médico concursado da mesma universidade, deveria ser proibido de ter contato com alunos, um ataque grave que põe em risco sua carreira profissional e sua relação com os estudantes. Bahia, que se autoproclama parte do "alto clero" da medicina, se refere a nós, os eleitos, como "baixo clero", sem compreender o motivo de sua própria derrota nas eleições para o CFM, onde tentou, sem sucesso, uma vaga em 2014.
A imprensa prefere ignorar que a maioria dos médicos optou pelo conservadorismo, distorcendo a realidade ao retratar a direita como antiética e anticientífica, sem dar direito ao contraditório.
Nós defendemos a ciência e um SUS forte, como sempre fizemos em nossas carreiras, atendendo pacientes em hospitais públicos e apoiando uma universidade pública sólida, que, lamentavelmente, tem sido destruída e sucateada pelo atual governo, com drásticas reduções nos investimentos em educação e uma queda no número de artigos científicos publicados pelo Brasil.
O maniqueísmo presente nas eleições do CFM cria cicatrizes profundas, minando a confiança da população nessa instituição crucial, que tem desempenhado seu papel com excelência desde 1957, independentemente das inclinações políticas de seus conselheiros.
O jornal O Globo publicou dezenas de artigos, matérias, editoriais e entrevistas tentando demonizar os candidatos conservadores ao CFM, em especial Raphael Câmara, sem jamais lhe conceder o direito de defesa pleno. Já em São Paulo, os principais jornais desempenharam papel similar, publicando textos atacando Francisco Cardoso, com afirmações falsas e demonstrando um profundo desconhecimento dos articulistas sobre o sistema médico, ao afirmarem, por exemplo, que uma sociedade médica americana seria equivalente ao CFM nos EUA.
Essa narrativa enviesada não prejudica apenas os eleitos para o CFM, mas corrói a confiança da população na instituição como um todo. O CFM, uma autarquia essencial para a regulação da profissão médica no Brasil, depende de sua credibilidade para assegurar que a medicina seja praticada com o mais alto padrão de ética e competência. Quando a mídia opta por polarizar essas questões, transformando-as em uma batalha ideológica, ela mina essa confiança e enfraquece toda a estrutura de saúde do país.
Não fomos nós que polarizamos as eleições; desde a pandemia, grupos progressistas lançaram movimentos como "Muda CFM" e "Esse CFM Não Nos Representa", tentando demonizar médicos de direita e defendendo nossa expulsão em 2024. O resultado? Uma derrota eleitoral esmagadora, que mostrou que os médicos brasileiros não se deixaram enganar por essas falácias.
Nossas campanhas foram pautadas em propostas concretas, com chapas que representavam os valores que os médicos realmente desejam ver no CFM: compromisso com a vida, a ciência e a ética, sem partidarismos.
Acusar médicos de charlatanismo e negacionismo, sem lhes oferecer a oportunidade de se defenderem ou explicarem suas posições, não é apenas antiético, mas também perigoso
Essa postura contribui para uma sociedade cada vez mais polarizada, onde decisões são tomadas com base em informações distorcidas e preconceituosas.
A insistência da mídia em nos atacar revela não apenas uma falta de imparcialidade, mas um desprezo pela complexidade das questões envolvidas na prática médica e na gestão de uma entidade como o CFM.
É hora de reconhecer que a verdadeira politização não vem de nós, democraticamente eleitos para o CFM, mas daqueles que tentam transformar a medicina em um campo de batalha ideológico. Precisamos de uma imprensa que atue como guardiã da democracia, tratando todos os lados com equidade e respeito, sem alimentar o monstro da polarização. O futuro da medicina no Brasil depende disso.
Francisco Cardoso é médico infectologista, assistente do I.I. Emílio Ribas em São Paulo, Perito Médico Federal, Delegado do Cremesp e foi eleito Conselheiro Federal de Medicina por São Paulo.
Raphael Câmara é médico ginecologista-obstetra, Mestre, Doutor, Médico da UFRJ, Conselheiro do Cremerj e foi reeleito Conselheiro Federal de Medicina pelo Rio de Janeiro.
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