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Quais são os medicamentos em estudos hoje contra o novo coronavírus e em que pé estão?
| Foto: Bigstock

A pandemia nos revelou fatos universais e concretos, que de tão óbvios vale escrever sobre eles para despertar os nossos sentidos.

O ar ficou mais puro e necessário. Mais puro porque as emissões de gases poluentes e de ações humanas contra a natureza foram reduzidas e o planeta respirou como há muito não fazia. O ato inconsciente de respirar passou a ser desesperadamente sentido por quem precisava de ar ou por quem receava a sua falta.

A água passou a ser protagonista na prevenção. Lavar as mãos e higienizar a mente e o corpo desde sempre foram medidas recomendadas de saúde. Manter-se hidratado aumenta a imunidade, e as estiagens catapultaram a importância da água. Sem água, não há vida.

O sol foi valorizado e, sem temor, tomamos banhos dele. Ainda mais com tempo, durante os períodos mais apropriados. Sol é saúde. Expusemos nossos corpos, roupas e tecidos a ele. É ruim para o vírus e nos dá a famosa vitamina D.

O fogo nós usamos para preparar os alimentos. Viramos chefes de cozinha. Alimentamos nossas famílias e isso nos deu novos laços umbilicais.

Nossa saúde ressuscitou em grande estilo. Praticamos meditação. Ouvimos música e lemos. A atividade física é uma constante na rotina. O sono de qualidade nos ocasionou insones horas na busca do sono ideal.

A vaidade teve breve folga. Os cabelos ficaram sem tinturas ou aventuramo-nos nos cortes domésticos e amadores. Ficamos mais belos naturalmente e sem artifícios.

O dinheiro virtual tornou-se realidade urgente. O comércio preferiu o plástico ao dinheiro físico cheio de impurezas.

O imponderável aconteceu e o petróleo ficou com preços negativos. Lei antiga e atualíssima da oferta e da procura. De volta para o passado.

Todo esforço direcionado aos idosos, às crianças, às gestantes e aos que padeciam de doenças crônicas. Sem lei que determinasse essa proteção, apenas o senso comum e o instinto da preservação. Contrário à seleção darwinista, não houve seleção natural e sim natural seleção.

Evoluímos todos a discutir ciência, às vezes sem ciência. Certo é que todos aprendemos um pouco, até sobre nossas limitações e desejos.

A educação e o trabalho, como que milagrosamente e de repente, ficaram remotos e melhores. Toda a discussão sobre o tema teve quase unanimidade.

As famílias e os amigos passaram a ser objeto de saudades. Aquele sentimento do amor que se tem pelo outro. Cuidamos do próximo como de nós, máxima de todos os povos em todos os tempos.

Apertos de mãos, abraços e beijos foram substituídos por sorrisos, olhares e reverências. Atos que igualmente manifestam respeito e carinho.

Tudo se pode adquirir remotamente. Alimentação, compras de mercado, máscaras de proteção. Os deslocamentos e a presença são fetiches humanos dispensáveis em muitos casos.

Tudo se transforma. Fábricas de roupas passaram a confeccionar máscaras. Impressoras foram adaptadas para produção de protetores faciais. Montadoras de automóveis lançaram respiradores. Mercantilistas amanheceram voluntários.

Profissões que nunca deveriam ser menosprezadas mostraram seu valor. A cadeia de atendimentos, desde o mais humilde prestador de serviços até o doutor-professor, foi reconhecida.

A medicina devolvida aos médicos, seu direito inalienável. Na hora derradeira, médicos com todas as letras em destaque foram convocados. Doaram suas vidas por pacientes que nem sequer conheciam. Assim é a sina da profissão. Os internamentos passaram a ser uma interrogação. Um salto para o desconhecido. E a solidão do isolamento de uma UTI, um martírio para todos. Basta uma palavra e uma vida será salva ou, ao menos, o conforto e o consolo será dado.

As mortes ficaram um tanto impessoais. Estatísticas, gráficos, números e projeções. Uma parte do luto foi alijada das famílias e amigos. Mas já se disse que saudade é o amor que fica. Essa lacuna o tempo preencherá, nem que demore.

O precioso tempo caminhou devagar e passamos a tê-lo em abundância. Tempo para ler, brincar, pensar, viver. Temos tempo para viver a vida simples que buscamos incessantemente.

Soluções são rápidas quando precisamos delas. Leis foram criadas, algumas que tramitavam há tempos foram desengavetadas. Tecnologias surgiram como mágicas; a criatividade aflorou como poucas vezes presenciaremos.

O futuro imita o passado. Em remotos lugares e períodos, a humanidade presenciou outras pandemias. Uma reprise para alguns. Por certo e por fé não queremos outra experiência como essa.

Há um senso de felicidade em meio aos caos. A graça da vida e a vida engraçada; dilema ético.

Redescobriremos coisas que sabíamos. O ar não custa nada e há em igualdade, sem privilégios. Todos adoecem pelos mesmos vírus. Não há riqueza que transforme dinheiro em ar ou cura. Temos de cuidar dos mais vulneráveis. A história dirá os equívocos e acertos do presente. Fácil profetizar, fácil opinar depois de terminado o “jogo”. Durante a pandemia, tudo se faz complexo diante do sopro da vida.

De tudo restará uma grande lição: a vida é agora!

Roberto Issamu Yosida, médico especialista em ginecologia e obstetrícia, é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná. 

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