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Boris Johnson Brexit
Primeiro-ministro da Grã-Bretanha e líder do Partido Conservador, Boris Johnson usa luvas de boxe com a frase “Get Brexit Done” (Faça o Brexit acontecer)| Foto: Frank Augstein/POOL/AFP

A vitória de Boris Johnson conferiu uma ampla margem ao Partido Conservador no número de cadeiras na câmera dos comuns. Enquanto isso, o Partido Trabalhista amargurou uma das suas maiores derrotas nas eleições.

Para se ter uma ideia da magnitude da vitória do Partido Conservador, eis alguns dados: é o menor número de assentos que os trabalhistas obtiveram desde 1935; os conservadores obtiveram 43,6% dos votos, o maior número que qualquer partido havia obtido desde 1979, e 365 assentos dos 650 totais na Câmara dos Comuns, este é o seu maior número desde 1987 quando o Partido Conservador venceu, pela terceira vez consecutiva, sob a liderança de  Margaret Thatcher. Essa vitória é ainda mais surpreendente em razão das pesquisas de opinião e os chamados “especialistas” considerarem Boris Johnson impopular.

Então, agora a pergunta é: por que a vitória acachapante?

Normalmente, fenômenos políticos e sociais não são explicados com base numa causa, mas por um conjunto de fatores. Eleições não são diferentes, ou seja, não podemos atribuir essa vitória a uma causa somente. Todavia, podemos identificar uma tendência comum na qual as causas convergem; neste caso a tendência é o distanciamento da esquerda e dos chamados “especialistas” em relação à percepção e demandas dos homens e mulheres comuns.

O candidato do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, foi para a eleição com um discurso de extrema-esquerda tanto nas questões econômicas como nas questões sociais. Corbyn defendeu um novo referendo sobre o Brexit no qual as opções seriam ficar na União Europeia, sair da União Europeia ou sair permanecendo em associação próxima com a UE. As políticas sociais e econômicas eram muito próximas daquelas defendidas pela tecnocracia da União Europeia. Políticas que utilizam da retórica ambientalista, de combate às desigualdades econômicas e multiculturalista.

O problema é que este discurso apela a um conjunto específico da população: pessoas de classe média alta das grandes metrópoles e jovens estudantes universitários. Um discurso que põe ênfase em temas como mudança climática, islamofobia, feminismo, ou seja, a agenda do chamado “politicamente correto”. Um discurso que considera que o resto da população precisa ser educada e conscientizada para enxergar o Reino Unido como uma sociedade opressora e preconceituosa.

Esse discurso gera pouca identificação com aquela parcela da população que está mais interessada em saber como irá pagar suas contas do que como reduzir as emissões de CO2 e combater o patriarcado.

Até então, os trabalhistas quando venciam eleições o faziam com base numa coalizão de classes: funcionários públicos, classe média alta das metrópoles, universitários e trabalhadores. Acontece que estes últimos não se identificam com o discurso do politicamente correto e eles são a maioria. Por isso, Boris Johnson e os conservadores conseguiram vencer em distritos tradicionalmente trabalhistas, exatamente os distritos blue collar, ou seja, distritos operários.

Resta agora saber se a esquerda, representada pelo Partido Trabalhista, irá aprender a lição e voltar escutar e respeitar as demandas dos homens e mulheres comuns ou vão continuar gritando que os eleitores de Johnson são racistas, nacionalistas, fascistas, etc. Será mesmo que se ganha o voto acusando homens e mulheres comuns de fascistas ignorantes e racistas? Eu creio que não.

Lucas Rodrigues Azambuja, sociólogo e professor no Ibmec BH.

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