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Pegando o ônibus errado
| Foto: Pixabay

Certo dia, o cidadão embarca tranquilamente na sua costumeira condução e, quadras depois da partida, em direção ao destino, percebe que está dentro do ônibus errado. Tal situação teoricamente não parece grave, pois descer do tal ônibus que pegou por engano e aguardar pela linha correta na próxima parada seria avaliada como uma atitude muito simples, certo? Errado.

Estranhamente, nesse momento, o corpo é tomado por uma sensação de pânico, como se nunca mais fosse permitida uma parada, um retorno, um recomeço. A velocidade do ônibus, antes tão lenta e criticada, parece mais rápida que a velocidade da luz. A única certeza que se tem é de que estando ali, sentindo-se completamente sozinho, apesar de a condução não dispor de um único lugar para se sentar, é de que se está prestes a não encontrar mais o caminho de volta pra casa.

O ponto final! A agonia acaba porque, em instantes, o caminho de volta vai ser refeito e a calma parece se restabelecer. Os pensamentos se ordenam, os caminhos ficam mais claros e aqueles “estranhos” de minutos atrás até parecem mais amigáveis.

Pais de verdade não têm a prerrogativa de escolher em qual fase darão apoio aos filhos

O que na realidade se pretende com essa narrativa de agonia é fazer um comparativo com as atitudes e com o tipo de relacionamento entre pais e adolescentes de hoje. É nesse período que os hormônios fazem uma reviravolta no corpo, enquanto a incerteza e o medo tomam conta dos mais diversos pensamentos. Sendo assim, acredita-se que alguém precisa “segurar as pontas” para que essas criaturas “não peguem o ônibus errado”, pelo menos até que passem por esse processo inevitável da sua vida. E esse alguém são os pais.

Não é bem isso que se tem observado. Como tudo, temos as exceções, mas a questão é que estamos falando de uma maioria desorientada, quando deveríamos comentar apenas sobre uma minoria que, por algum motivo ou outro, se perdeu no julgamento do que seria certo ou errado, próprio ou impróprio na educação de seus filhos.

Procura-se o psicólogo porque o problema é o filho, e apenas o filho. Ele é mal-educado e desinteressado porque é adolescente. Não vai bem na escola porque não quer nada na vida. Ninguém dá jeito nesse menino porque é da tal “geração Y”, e por aí vai. É preciso começar a questionar, discutir e também colocar às claras o comportamento dos pais desses adolescentes “indomáveis”. Parece até que tanto problema, suicídio, depressão, droga e tudo mais que aparece por aí, é tudo culpa dos hormônios. Para ilustrar rapidamente o que ocorre, estava eu em um aniversário e a mãe de dois adolescentes contava que iria passar dez dias no litoral, longe principalmente dos filhos. Afinal, eles estavam com problemas em todas as áreas possíveis. Em casa, na escola e com os amigos. Então era melhor ficar longe, pois a situação estava insuportável.

Estamos na sociedade de pais perdidos que embarcaram seus filhos em ônibus errados. Esses jovens estão com muito medo, pois não sabem se conseguem saltar sozinhos dali. Querem saber quem são as pessoas que seguem viagem com eles, com quem podem contar para pedir uma informação. Pais de verdade não têm a prerrogativa de escolher em qual fase darão apoio aos filhos. Em todas elas, boas e ruins, estando cansados ou não, totalmente seguros ou com incertezas, é preciso estar lá. Ora apoiando, ora desaprovando, estejam lá! Para o que der e vier. Falem o que é certo e o que é errado. Vivam do exemplo, cobrem responsabilidade e deixem que saibam sobre sua importância. Assim, muito provavelmente, eles logo chegarão ao ponto final e encontrarão o caminho de volta para casa.

Juliana Garippe é gerente de Relacionamento do Sistema Positivo de Ensino.

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