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 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Em 1995, nasceram 3,1 milhões de crianças no Brasil. Em 2017, 30 mil delas continuam analfabetas por não terem entrado na escola ou a terem abandonado antes de aprender a ler. Cerca de 2,6 milhões concluíram o ensino fundamental. Apenas 2 milhões terminaram o ensino médio e, dessas, não mais do que 600 mil adquiriram conhecimento suficiente para enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento onde viverão, falando línguas estrangeiras, dominando Matemática, informática, Geografia, História, Literatura, Filosofia.

Pouco mais de 720 mil estão no ensino superior, mas, considerando a atual taxa de evasão/abandono nesse segmento, que é de 49%, não chegará a 355 mil (11,5%) o número daquelas 3,1 milhões de crianças que, até o ano de 2022, concluirão a faculdade. As avaliações mostram que a qualificação profissional desses graduados deixa muito a desejar. O aumento no número de vagas não teve correspondência no aumento do número e da qualidade do ensino médio.

Não teremos futuro se não formos capazes de aproveitar os cérebros de todas as nossas crianças

Apenas 17 mil (0,55%), no máximo, farão cursos de pós-graduação e terão condições de se tornar alguns dos raros cientistas de que o Brasil tanto carece. Desses nascidos em 1995, o Brasil não terá nem mil como cientistas de nível internacional. A perversidade dessa pirâmide é suficiente para mostrar o despreparo do Brasil para ingressarmos com eficiência no século 21, com a economia global baseada no conhecimento. Ainda pior, boa parte dos nossos raros talentos científicos está emigrando para países onde poderá desenvolver melhor suas atividades profissionais e terá melhores condições de vida para si e para suas famílias.

Entre o nascimento e a vida adulta, o Brasil afoga milhões de seus cérebros na infância e adolescência e está provocando a fuga dos poucos que conseguem avançar até o último nível do conhecimento formal e do exercício da atividade científica. A dificuldade criada por estes dois fatos, afogamento e fuga de cérebros, mostra uma sociedade imediatista nos propósitos e sem vocação para o desenvolvimento intelectual.

Leia também: Não é inteligente cortar verbas de ciência e tecnologia (artigo de Ricardo Marcelo Fonseca, publicado em 23 de agosto de 2017)

Leia também: Por uma pós-graduação forte em dias de dificuldade (artigo de Edvaldo Rosa, publicado em 24 de setembro de 2017)

Os brasileiros se revoltariam se tomassem conhecimento de que nossos governos estão omissos diante da destruição de parte de nossas minas e deixando que países estrangeiros levem uma parte de nossos minérios. Entretanto, nenhuma indignação é manifestada e nada é feito para impedir essa realidade.

Assistimos passivamente ao afogamento e fuga, sem ao menos percebermos que estamos perdendo nosso ouro do século 21: o conhecimento, a ciência, a tecnologia e a cultura que nossos cérebros poderiam criar. Permitimos que levem a verdadeira e permanente riqueza: a inteligência de nossas crianças que deixamos de desenvolver e o conhecimento acumulado por nossos doutores que partem para o exterior.

Não teremos futuro se não formos capazes de aproveitar os cérebros de todas as nossas crianças, de mantê-los aqui em plena atividade profissional e de trazer de volta os nossos cientistas que emigraram para outros países, dando-lhes todas as condições de trabalho.

Cristovam Buarque é senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
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