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O papa Francisco, no Vaticano, 12 de fevereiro de 2020
O papa Francisco, no Vaticano, 12 de fevereiro de 2020| Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP

O Papa Francisco demonstrou humanismo quando recebeu o ex-presidente Lula para ouvir proposta de enfrentamento à tragédia da pobreza e da desigualdade no mundo. Mas tivemos a sensação de que se tratou apenas da discussão sobre uma vaga ideia sem sugestão de ações.

O ex-presidente Lula poderia ter levado a proposta do programa de Bolsa Escola/Família, financiado pelos ricos do mundo, governos e indivíduos, dirigido aos pobres da América Central e da África, hoje obrigados pela miséria a emigrarem para os Estados Unidos ou Europa.

Com uma bolsa de US$100,00 por mês, seria possível manter uma família em seu povoado. Vinculando essa bolsa à obrigação de cuidar das crianças na escola, o Papa estaria liderando um movimento mundial que em uma geração levaria à superação da pobreza. Para isso, seria necessário que os indivíduos e países ricos investissem US$ 2 bilhões a mais diretamente na educação, para 10 milhões de crianças.

Considerando que o Brasil gasta sozinho US$ 10 bilhões com um programa similar para sua população, Lula poderia ter apresentado um programa ainda mais ambicioso para atender não apenas um milhão de pessoas, mas 100 milhões, ao custo de US$ 200 bilhões por ano. O Papa teria uma bandeira concreta: convencer os ricos e os líderes do mundo para formarem um fundo internacional para aliviar a pobreza e reduzir a desigualdade, e ao mesmo tempo frear movimentos migratórios. Uma maneira humanista de proteger as fronteiras, usando a ponte do Bolsa Escola/Família no lugar de muros e barreiras.

Para dar mais força à ideia, no interesse dos pobres do mundo, Lula deveria  formar uma frente e levar ao Papa os ex-presidentes que implantaram programas similares, antes mesmo da Bolsa Família, como os ex-presidentes Fernando Henrique, do Brasil, e Ernesto Zedillo, do México.

Se realmente o interesse são os pobres do mundo, Lula precisa melhorar sua proposta, reunir uma base nacional e internacional de apoio à ideia, levar sugestões concretas de como fazer, de quanto vai custar e de onde viria o dinheiro para realizar a intenção de aliviar a pobreza e reduzir a desigualdade que cresce no mundo.

Ao voltar do Vaticano para o Brasil, o ex-presidente deveria propor a todos os líderes brasileiros, e não só aos militantes de seu partido, que nos unamos para vencer a pobreza. Que continuemos a caminhar para um grande pacto pelo fim do analfabetismo e universalização do saneamento, com a adoção federal da educação de base nos municípios pobres. Afinal, se não fizermos nosso dever de casa, como vamos ter credibilidade para levar ideias ao mundo?

O encontro foi uma grande iniciativa de ambos, Lula e o Papa, pelo que soubemos, mas faltou passar a ideia de que a intenção era realmente a humanidade.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.

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