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Fico horrorizado em ver a desenvoltura com que os polí­­ti­­cos e as elites destinam seu dinheiro para as finalidades mais variadas e não conseguem separar algumas migalhas para o setor educacional

De todos os apagões que os especialistas vaticinam para o Brasil nos próximos anos, nenhum se compara em gravidade ao apagão humano que estamos começando a viver.

Funcionários já aposentados estão sendo chamados de volta às empresas, trabalhadores que deixaram o Brasil para tentar a vida nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão estão voltando em massa para fugir da hostilidade crescente de seus atuais hospedeiros em relação aos imigrantes e aproveitar o bom momento econômico do país. Essa situação – que até pode ser vista com óculos favoráveis por significar um aumento de oportunidades locais para gente que antes não encontrava emprego, mascara uma realidade dramática: não estamos sendo capazes de suprir a economia (e a sociedade) de indivíduos minimamente preparados para cumprir as tarefas produtivas que devem ser executadas, ou para desempenhar outros papéis sociais. E o nome desse apagão é simples: falta de investimentos e de sensibilidade política para a educação de qualidade em todos os níveis.

Na área educacional, não há dúvida de que o Brasil conseguiu alcançar um patamar civilizatório mínimo, que consistiu em universalizar o acesso às escolas públicas. Mas que qualidade de educação formal essas escolas estão em condições de oferecer? Todas as vezes em que esse assunto vem à discussão, aparece a cantilena de sempre: não é só o dinheiro que assegura a educação de qualidade. Isso é óbvio, mas é muito mais verdadeiro que sem amplos investimentos materiais e tecnológicos nas escolas e nos professores, nunca teremos uma educação de qualidade.

E aí vem o segundo ponto, o da sensibilidade política. Fico horrorizado em ver a desenvoltura com que os políticos e as elites destinam seu dinheiro para as finalidades mais variadas e não conseguem separar algumas migalhas (pois comparativamente são migalhas mesmo) para o setor educacional. Alguns estados vão gastar mais de R$ 300 milhões para equipar seus estádios para receber três ou quatro partidas da Copa do Mundo de 2014 e o Brasil se prepara para gastar mais de R$ 35 bilhões para se preparar para a Olimpíada e a mesma Copa. E para a educação? "Veja bem" é a frase chave que marca o início da temporada de desculpas inevitáveis e esfarrapadas.

Agora, já pensaram se o Brasil destinasse metade, apenas a metade dessa dinheirama para construir, reconstruir, equipar, modernizar sua rede de escolas, para criar estímulos financeiros aos docentes, para premiar as escolas mais produtivas como vêm fazendo com amplo sucesso o estado de São Paulo e alguns municípios brasileiros? Já pensaram no efeito que faria uma injeção de 10 bilhões de dólares na educação pública brasileira? Que ilusão, é muito mais charmoso pensar numa tolice como construir um estádio municipal de futebol em Curitiba só de birra com os atleticanos; ou implodir estádios feitos há relativamente pouco tempo, que nunca lotaram durante suas vidas, para construir outros mais modernos em seu lugar.

E assim vamos nos condenando a ser um país de gente jovem, alegre, motivada ... e ignorante. Aliás, parece que nem gente bonita temos mais. Se não for assim, como explicar que uma indústria vá buscar nos Estados Unidos a Paris Hilton, uma lourinha igual a milhares ou milhões de outras lourinhas, para fazer propaganda de cerveja na terra das mulheres mais lindas do mundo? E que depois a tragam para desfilar num desses festivais de moda com nome estrangeirado, logo aqui, onde se encontram as top models mais requisitadas do mundo? Ou como se explica que uma imobiliária contrate uma starlette americana a peso de ouro para fazer o lançamento de um condomínio? Mulher bonita é um desses pouquíssimos produtos que não necessitam de grandes ciências e tecnologias, e o Brasil as produz em massa.

Quanto aos homens, parece que as mulheres acreditam que não temos a mesma expertise e, portanto, talvez se justifique trazer o Richard Gere para declarar, também a peso de ouro, que havia acabado de chegar em um anúncio de tinturas para cabelo.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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