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As rotinas dos indivíduos e os cenários profissionais estão mudando muito rapidamente, ensejando as seguintes questões, que já permeiam todas as atividades humanas: Quem serão as pessoas do novo tempo? Estamos prontos para construir o futuro num ambiente com tantas mudanças? Estamos sendo devidamente educados ou educando-nos para isso?

O grupo The Economist publicou recentemente um relatório sobre aprendizagem, com vistas a estabelecer critérios que garantam educação dos jovens voltada para o futuro. O documento afirma que muitos governos não estão fazendo o suficiente a fim de preparar os jovens para as grandes mudanças que têm ocorrido no trabalho e na vida, e para os complexos desafios do século 21. Assuntos cruciais, como o aprendizado baseado na solução de problemas e os conceitos de cidadania global, estão sendo ignorados. Pensamento crítico, prática de trabalho em colaboração e consciência a respeito das questões globais precisam ser desenvolvidos.

O relatório ainda afirma que as políticas educacionais necessitam ser implementadas por um conjunto de professores bem equipados, com capacidade para orientar os estudantes no sentido de eles adquirirem as competências que serão relevantes no futuro. As salas de aula precisam ter suas paredes “derrubadas”. Os alunos necessitam enxergar a aprendizagem como um processo não confinado aos ambientes tradicionais de ensino. Os programas no exterior podem ser um caminho para isso, bem como a colaboração entre universidade e empresa.

Inovação é incerteza: se houvesse alguém sabendo exatamente o que vai acontecer, não seria inovação

Professores bem pagos e fundos de apoio à educação são fatores importantes, mas o dinheiro não pode ser uma panaceia. Salários dignos e elevação do prestígio da classe dos professores são temas essenciais, mas deve-se atentar para o fato de que só esses fatores não resolverão as complexas questões inerentes ao sistema educacional. Uma questão é essencial: a reciclagem para a permanente atualização do corpo docente.

O texto destaca que a educação holística, voltada ao futuro, tem ligação direta com uma sociedade que seja tolerante e também aberta em termos de diversidade cultural, liberdade de expressão, respeito e valorização das mulheres etc. E o documento também identifica algumas habilidades que devem ser cultivadas nos alunos para, quando adultos, poderem vencer as complexidades dos problemas a surgir no futuro. Entre elas, estão habilidade no tratamento interdisciplinar, habilidade criativa e analítica, habilidade para o empreendedorismo, habilidade de liderança, habilidade digital e técnica, consciência global e educação cívica.

Se o modelo educacional de hoje foi criado para a era industrial, um novo modelo é agora necessário visando preparar os estudantes para as demandas e desafios da era da informação, quando as inovações serão cada vez mais frequentes.

Com respeito à inovação – algo que certamente estará no centro da economia do futuro –, o governo da Austrália publicou recentemente a primeira minuta de um documento listando o comportamento esperado daqueles que queiram desenvolver trabalhos inovadores. A lista, apresentada a seguir, está baseada no documento australiano e pode servir de direcionamento para uma aprendizagem voltada ao futuro. Segundo ela, os alunos – em todos os ambientes, mas especialmente em sala de aula – devem ser estimulados e treinados para formular perguntas. Como inovação diz respeito a mudar comportamentos e alterar a maneira como as coisas são feitas, faz-se relevante que os alunos fiquem habituados a questionar hipóteses; questionar como e por que as coisas são feitas de certo modo; questionar se haveria maneira melhor de se fazer; perguntar se haveria algum ângulo diferente de olhar para as coisas, ou se haveria outras pessoas que pudessem adicionar novos insights. Os alunos devem ser treinados a usar as respostas a essas questões para construir uma compreensão mais rica de uma determinada situação, de quais são os problemas existentes e do que pode ser feito para resolvê-los.

Eles também tem de ser incentivados a realizar testes e a experimentar. Inovação é incerteza: se houvesse alguém sabendo exatamente o que vai acontecer, não seria inovação. Para reduzir essa incerteza, é preciso testar, experimentar uma nova ideia e aferir os resultados. Os alunos precisam estar treinados nisso.

Leia também: A Inovação Social para educação em massa (artigo de Cristiano de Angelis, publicado em 30 de outubro de 2014)

Leia também: As faculdades corporativas e a empregabilidade (artigo de Cesar Silva, publicado em 16 de dezembro de 2017)

Os alunos, ainda, devem ser treinados para contar histórias. É comum que uma nova ideia pareça para outros como uma atividade adicional de trabalho, ou como uma fuga em relação ao negócio principal. Se uma história for contada como parte do processo inovador, deixando claros quais os benefícios a alcançar, pode-se identificar como e por que a inovação se faz relevante. Assim, a inovação terá mais chances de passar a ser encarada como parte de um trabalho existente, em vez de uma carga adicional de trabalho.

Outra qualidade é a de ter foco no problema a ser solucionado. Há sempre muitas ideias, mas quais serão as mais relevantes para a solução de problemas existentes? É importante não ficar “grudado” a uma ideia específica, mas concentrar-se nos benefícios que cada ideia poderá proporcionar. Sempre podem aparecer ideias melhores, o que demandará uma mudança de direção. Focar no problema (e não em ideia especifica) tende a proporcionar maior flexibilidade, escolhendo-se sempre a ideia mais adequada.

E, por fim, os estudantes devem estar conscientizados sobre o valor da persistência. Desenvolver uma ideia inovadora pode requerer novas habilidades e competências. Isso exige que as pessoas saiam da sua posição de conforto, o que geralmente resulta em antagonismos. Nessa hora, é preciso não desistir ante o primeiro problema. Eventualmente, se a resistência for grande, pode ser necessária a formação de novas equipes e novas redes de relacionamentos, para que o novo empreendimento possa ser viabilizado.

Há bastante tempo dividem-se as opiniões quanto ao propósito dos locais de aprendizagem – escolas, colégios, faculdades, universidades. Em termos um tanto simplificados, a grande cisão é entre as pessoas de convicção conservadora, que se satisfazem em apoiar um ensino que reflita e preserve o statu quo, e aquelas que acreditam que os ambientes de aprendizagem devem ser postos avançados que atuem na fronteira das mudanças socioeconômicas. Entre essas duas posições polares, há, naturalmente, infinitas nuances de opinião.

Aceitar a ideia da aprendizagem orientada para o futuro é ingressar nas fileiras dos que creem que a educação deva ser um agente de mudança e de transformação para a construção de um mundo melhor para todos!

Marcos de Lacerda Pessoa, mestre, Ph.D. e pós-doutor em Engenharia, membro do Centro de Letras do Paraná, é superintendente de Inovação da Copel, autor de “Sementeira de Inovação” e organizador e editor de “Pinceladas de Inovação”.
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