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Uma dúvida frequente sobre os protestos contra o PT e a presidente Dilma diz respeito ao seu parentesco com as manifestações de massa de 2013. Uma breve análise sobre os eventos iniciados em junho daquele ano permite entender a diferença entre os dois fenômenos.

Protestos exigindo algo do Estado sempre existiram. Após anos de tentativas com temas que iam da legalização da maconha às greves de professores, grupos mapearam uma causa que atraía a simpatia de toda a população, não apenas dos sindicalistas e agitadores: o transporte, questão principal em todas as eleições paulistanas nos últimos 15 anos. Livros virtuais foram feitos com o resultado de tais pesquisas, tendo como autores membros do Fora do Eixo discutindo como se concentrariam as próximas manifestações.

Exigências feitas a políticos só poderiam ser realizadas com um aumento do poder estatal sobre toda a sociedade

A estratégia era usar este tema, que afeta toda a população, mas que pode se esvaziar para que todos passassem a protestar contra toda a ordem atual repentinamente. O resultado foi muito maior do que o otimismo mais exacerbado poderia conceber, ainda mais com eventos mundiais que seguiam pari passu o mesmo roteiro, como o Occupy Wall Street ou os Indignados espanhóis.

Com uma causa populista inicial, usa-se o espaço público para travar a atividade normal do país enquanto o Estado não for desmontado. Novas pautas assomam-se, sem definição, tendo o sentimentalismo de uma aparente participação política como o uniforme que une a todos. Exigências feitas a políticos só poderiam ser realizadas com um aumento do poder estatal sobre toda a sociedade. É o chamado totalitarismo, com o Estado controlando toda atividade pública e privada.

Essa forma de fazer política é o chamado “movimento de massa”, tendo como grandes defensores atuais Antonio Negri, Ernesto Laclau ou Slavoj Žižek. O mecanismo é o enxame social, que passa a ser controlado por sentimentos e palavras de ordem as mais genéricas possíveis. Žižek declarou no Occupy que ter propostas era dar poder ao inimigo. Negri considera a multidão enfurecida o caminho para a nova ordem social, com todos subtraídos de sua individualidade e marchando felizes sob os mesmos slogans. Em seus termos, comunismo é amor.

Apesar da convulsão, a violência de anarquistas com táticas como o black bloc, a destruição niilista por trás de máscaras, assustou a ordeira população brasileira, e o movimento de massa se esvaziou rapidamente. O black bloc, portanto, foi o freio numa revolução em curso, pois, quando acontece, a população esvazia as ruas. Foi o que nos diferenciou de revoluções como a Francesa, a Russa ou a Iraniana.

Se em 2013 os resultados possíveis seriam uma quebra de poder e o controle estatal total sobre uma população exigindo pautas genéricas como “saúde” ou “educação”, em 2015 a única semelhança é o sentimento pré-black bloc de repúdio ao governo petista. Contudo, os resultados possíveis são opostos: o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de petistas corruptos, causando uma provável diminuição do poder estatal e de políticos sobre o país.

Entretanto, o movimento de massa não morreu, e seu método de exigência de benesses estatais ainda é o que mantém boa parte do eleitorado crente na qualidade do PT e da esquerda.

Flavio Morgenstern é analista político e autor do livro Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, com lançamento em Curitiba previsto para quinta-feira (22).
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