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O Brasil de hoje, independentemente das sombras que pairam no quadro financeiro mundial e que, queiramos ou não, toldarão o horizonte da nossa economia real, é um emergente respeitável. Os tucanos atribuem nossa boa performance às sementes plantadas no governo FHC. Já os petistas, embalados nos notáveis índices de aprovação presidencial, jogam todas as fichas na conta do presidente Lula.

Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, com seus erros e acertos, contribuíram positivamente para que chegássemos ao atual patamar. Fernando Henrique modernizou o Estado. Lula iniciou o resgate da fatura social. A história, distanciada das paixões e livre dos juízos precipitados, fará justiça aos presidentes.

O Brasil melhorou. É indiscutível. Todos reconhecem que estamos mais preparados para enfrentar a acomodação posterior aos abalos sísmicos. No entanto, o clima de sinistrose renasce constantemente. E ultrapassa, de longe, a gravidade objetiva dos fatos. Não se trata de praticar um otimismo infantil e insensato. Mas o pessimismo recorrente, ancorado no exercício da astrologia econômica, não faz bem ao Brasil. As reações ciclotímicas não se manifestam somente no futebol, mas também na economia. O pavor da crise pode piorar a crise.

Mesmo em tempos difíceis, é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O bom jornalismo reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real -a que está aí -pode ser amplificada pelos megafones do negativismo midiático. À gravidade da situação, inegável e evidente, acrescenta-se uma forte dose de pessimismo. O resultado final é a potencialização da crise.

Uma cachoeira de prognósticos negativos corre solta. A análise isenta, verdadeiramente jornalística, talvez conduza a um horizonte menos assustador. O país está numa corrida de obstáculos e, como nos estádios, a pista não termina no abismo. Estamos, todos, ricos, emergentes e pobres, navegando num mesmo transatlântico. Em caso de naufrágio, não haverá afogamentos seletivos. Iremos todos a pique. Também os ocupantes da primeira classe (ou do Primeiro Mundo). E os países ricos, por óbvio, têm muita bala na agulha e uma imensa pressa para virar essa página negra da história da economia mundial. Por isso, sem otimismo tolo, é preciso reconhecer que o Brasil, pelo tamanho de seu mercado, pela iniciativa que demonstra, é maior do que as circunstâncias de momento.

A futurologia, marca registrada de certos economistas, não contribui para baixar a febre do paciente. "Desemprego no Brasil pode ir a 9% em 2009", dizia recente manchete de jornal. E o subtítulo era ainda mais forte: "Mais de 2,1 milhões de brasileiros estarão procurando emprego no ano que vem". Os títulos não se apoiavam em fatos, mas em previsões de bancos e empresas de consultoria.

A sociedade, no entanto, está na contramão dos profetas do agouro. Recente pesquisa do Datafolha mostra que a crise não abalou a confiança na economia. Segundo o instituto, 76% dos brasileiros mantiveram os planos de compra apesar da turbulência mundial. A atitude da sociedade é boa. A depressão e a ansiedade não são boas conselheiras. Agora, cabe ao governo descer do palanque e assumir o timão de um barco que fará uma travessia difícil.

Em descompasso com as melhores administrações públicas do mundo, todas preocupadas com a qualidade, e não com a quantidade de seus quadros, o governo enterra investimentos em infra-estrutura no fosso profundo de uma assustadora folha de gastos com pessoal.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), até agora não radiografado adequadamente pela imprensa, continua sendo apenas uma formidável ferramenta de marketing político. Na falta da reportagem substantiva, sobra o declaratório. Ninguém foi ver, por exemplo, o andamento do PAC real, não o do promocional. Confrontar declarações com a realidade não é jornalismo engajado. Ao contrário. Trata-se de elementar dever do nosso ofício. Objetividade e equilíbrio. Luzes e sombras. Não só denúncia, mas também não só aplauso. A todos, feliz Natal!

Carlos Alberto Di Franco , diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia

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