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Pode-se afirmar que grande parte da população, em algum momento da vida, já teve algum contato com a bicicleta. Desde a infância, quando aprendemos a nos equilibrar sobre duas rodas, temos na memória a primeira sensação de liberdade, o vento no rosto, os cabelos voando e o prazer indescritível de explorar novos lugares movidos por nossas próprias pernas.

Mas por que esse lazer está se tornando um assunto tão sério no Brasil? Morando em Londres desde 2008, tenho acompanhado atentamente a evolução do uso da bicicleta em suas mais diversas formas, em várias partes do mundo. Em países desenvolvidos e em grandes cidades do Velho Continente – como Paris, Munique, Copenhague e Londres –, onde a infraestrutura para o uso de bicicletas como meio de transporte iniciou-se há décadas, a bicicleta faz parte da rotina da população. Também pode-se dizer que, como esporte, o ciclismo está entre os cinco favoritos dos europeus.

Em Copenhague, mais de 50% da população utiliza a bicicleta como meio de transporte. Claro que isso não é por acaso, e o trabalho de criação de infraestrutura e apoio ao uso das bicicletas iniciou-se ainda na década de 1960. Naquela época, a cidade era extremamente poluída e o volume de carros nas ruas criava um verdadeiro caos. Um quadro similar ao que o Brasil enfrenta neste momento. Mas existem indícios de que podemos reverter esse cenário. Existe um movimento positivo no Brasil com relação ao uso da bicicleta como meio de transporte, ou em suas diversas formas, seja como atividade física, lazer, esporte competitivo ou como meio de integração da sociedade. Mas é claro que existe muito a ser feito para criar nas cidades brasileiras um padrão de infraestrutura funcional, confortável e segura.

Curitiba, com seu passado histórico de vanguarda e considerada a Capital Ecológica, tem todos os aspectos necessários para ser pioneira e já está pedalando nessa direção. Ao criar uma estrutura para o uso das bicicletas como as Vias Calmas, e adicionando à sua malha cicloviária novas ciclovias, estará garantindo seu espaço à frente das outras grandes cidades do Brasil. Além do necessário interesse político, existem diferentes iniciativas privadas que buscam ampliar esse horizonte.

Atualmente, um grupo de visionários empresários de Curitiba está em contato com a Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), juntamente com a União Ciclística Internacional (UCI) – entidade máxima no ciclismo mundial. O interesse inicial partiu desse grupo, que se articula para trazer grandes eventos para o Brasil, e seu objetivo inicial é Curitiba.

Grandes eventos ao estilo da São Silvestre, mas com bicicletas, misturam atletas de elite com a população e têm um papel fundamental para criar uma cultura de respeito a diferentes modais de deslocamento, além de gerar um impacto positivo na saúde pública, no respeito aos pedestres e ciclistas, e deixam um legado econômico positivo para diversos setores da sociedade.

Em Londres, por exemplo, eventos nesse estilo chegam a reunir mais de 100 mil pessoas em um fim de semana nas ruas do Centro da cidade. Outros eventos, como a Cape Town Cycle Tour, na África do Sul, reúnem cerca de 50 mil ciclistas anualmente e o número de participantes cresce a cada edição. O investimento em infraestrutura e incentivo ao uso da bicicleta traz um retorno dobrado para a população. Estudos recentes realizados no Reino Unido mostram que, se 10% dos trajetos de casa para o trabalho fossem feitos de bicicleta, resultando em 150 minutos de atividade física semanais, a redução de gastos do governo no combate ao diabete seria de aproximadamente 3% do custo total, sem contar a redução de custos de saúde atrelados a problemas diversos, como obesidade e problemas cardíacos.

Na Franca, o governo paga cerca de R$ 1 por quilômetro rodado para pessoas que utilizam a bicicleta para ir e voltar ao trabalho; no Reino Unido, as bicicletas compradas através de um programa do governo, diretamente pelas empresas em que os funcionários concordam em usar a bicicleta como meio de transporte, geram uma isenção de impostos de até 40% para o contribuinte.

Assim, o uso da bicicleta em suas diversas formas melhora a qualidade de vida da população, é um meio de transporte agradável, saudável, ecologicamente correto, barato e ajuda a eliminar o caos do sistema de transporte das grandes cidades.

Ricardo Nogare, vice-presidente do banco de investimentos State Street Bank, na Inglaterra, é ciclista profissional, bicampeão brasileiro e hoje atua como Embaixador da Bicicleta na União Ciclística Internacional (UCI) e como membro da comissão Ciclismo para Todos.

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