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O potencial energético brasileiro do biogás e do biometano é de mais de 100 milhões de m³ de gás por dia.
O potencial energético brasileiro do biogás e do biometano é de mais de 100 milhões de m³ de gás por dia.| Foto: Shutterstock

A adesão do Brasil ao Compromisso Global do Metano teve um impacto surpreendente na COP-26, a Conferência das Nações Unidas sobe Mudanças Climáticas. Reduzir as emissões de metano é parte essencial da solução para ficarmos abaixo dos 2ºC de aumento na temperatura global até 2050, e o biogás tem um papel fundamental neste processo.

Existe um senso de urgência de que precisamos agir. A própria assinatura do acordo é um divisor de águas no que deverá ser feito. O metano tem um poder de agravamento do efeito estufa 20 vezes pior do que o do CO2. De acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o gás foi responsável em 30% pelo aumento da temperatura; portanto, precisamos reduzir as emissões na mesma proporção até 2030.

Para isso, precisamos evitar as perdas involuntárias na exploração de gases fósseis e atuar na agroindústria e no saneamento, capturando este metano para produção de riqueza. A indústria precisa ver isto com uma oportunidade, e não como custo. Conferir aproveitamento energético aos resíduos, sejam eles da agricultura, da indústria ou do saneamento, constitui um negócio de oportunidade, que configura mais uma receita para o setor produtivo.

Queremos transformar estes setores em fábricas de produção de gás, para produzir energia elétrica, energia térmica, combustível, biometano (gás natural equivalente intercambiável) e biofertilizante. A partir do biogás é possível desenvolver toda a cadeia de biorrefinaria, transformando o biometano em hidrogênio, amônia e metanol. É uma oportunidade única para o Brasil, principalmente com esta escala. Hoje, o país desperdiça 100 milhões de m³ de metano renovável por dia, que equivalem a 35% da energia elétrica consumida no Brasil e 70% do diesel. Falamos que é o “pré-sal caipira”, porque de fato cada usina de cana-de-açúcar tem a escala de um poço de petróleo do pré-sal.

Ainda estamos engatinhando. O biogás é uma fonte em estágio inicial de maturidade, mas tem todo o potencial para crescer como as energias solar e a eólica. O Brasil conta com cerca de 600 plantas de biogás em operação, porém ainda está muito longe de aproveitar todo o seu potencial. Apenas 2% são utilizados, representando menos de 0,01% da matriz energética do Brasil.

Temos este desafio de expandir o biogás e aumentar sua participação na matriz energética do país. O Ministério da Agricultura, junto com o Plano ABC, ampliou o limite de financiamento para plantas de biogás, pensando em trazer tecnologia e eficiência. Não podemos olhar para uma planta como apenas de tratamento de dejetos; é uma usina que vai fazer hidrogênio. Temos de agregar tecnologia e fazer isso de maneira eficiente.

Avançamos em um ambiente regulatório favorável para a produção do biogás, com a nova Lei do Gás, que reconheceu o biometano como equivalente ao gás natural fóssil; e o RenovaBio, o programa de créditos de carbono para biocombustíveis. A modernização do setor elétrico contempla usinas de biogás da mesma forma que as térmicas a gás, com a vantagem de se tratar de um gás de origem renovável. A universalização do saneamento também poderá contar com o biogás como receita acessória.

Avançamos em um ambiente regulatório favorável para a produção do biogás, com a nova Lei do Gás, que reconheceu o biometano como equivalente ao gás natural fóssil.

No total, o setor de biogás já acumula cerca de R$ 3 bilhões em investimentos, apresentando crescimento de mais de 20% ao ano. Até 2030, a ABiogás estima que o Brasil vai chegar à produção de 30 milhões de m³/dia, que representa 30% do potencial de hoje, e que vai demandar R$ 50 bilhões em novos projetos.

Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o Brasil emitiu, no ano de 2020, mais de 20 milhões de toneladas de metano. A partir da projeção da ABiogás, até o fim da década o país estaria captando e dando uma utilização nobre para 7,2 milhões de toneladas de metano por ano, o que significa que o país poderá contribuir com a redução de 36% das emissões em relação ao ano passado, superando a meta estabelecida pela ONU.

Se chegarmos ao aproveitamento total do metano, podemos reduzir ainda mais as emissões. Todo o resíduo que em economia linear é encarado como rejeito do processo produtivo, em uma visão de economia circular, é encarado como um insumo. Portanto, é possível aproveitar 100% dos resíduos dando uma destinação correta para geração de energia e, assim, reduzirmos as emissões de gases do efeito estufa. Estamos confiantes que chegaremos lá.

Alessandro Gardemann é presidente da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás).

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