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Nos meus valores para uma sociedade mais próspera está a defesa incondicional do capitalismo. Em sua mais pura forma: da livre concorrência. E, nesta forma, empresas vão à falência e outras mais inovadoras surgem.

Dias atrás, Henrique Meirelles anunciou um pacote de medidas para incentivar a economia. Uma delas é reduzir o prazo em que os lojistas recebem o dinheiro de uma transação em cartão de crédito. Hoje é 30 dias; o governo quer baixar para dois.

Aí veio o Nubank. Aquela startup querida do cartão roxo. E em menos de 24 horas foram para o ataque ao dizer que eles iriam à falência com esta medida. Como o Nubank é o queridinho do momento, muitos saíram em sua defesa. Eu mesmo, defensor da iniciativa privada, já estava tomando as dores. Como ousam mexer com o Nubank? Afinal, esta medida levaria o Nubank à falência, elevaria os juros e deixaria o setor de cartões ainda mais concentrado na mão dos grandes bancos.

Qual é o problema se o Nubank falir?

Medidas que inviabilizam as fintechs

As empresas menores seriam as mais prejudicadas por não terem a capacidade de financiamento dos grandes bancos

Leia o artigo de Françoise Iatski de Lima, professora da Universidade Positivo

Mas resolvi analisar bem. Vi que os que aderiram ao coro esqueceram de pensar no lado dos lojistas e do bem-estar da sociedade como um todo. Afinal, o prazo médio de pagamento no Brasil está bastante acima do resto do mundo. Nos Estados Unidos é de dois dias. E um dos pontos mais sensíveis para o comércio é quanto tempo as empresas demoram para pagar e receber seus produtos. Sabendo que precisam esperar dois dias e não mais os 30, os pequenos comércios passarão a pagar mais rápido os fornecedores. Negociarão maiores descontos nos insumos e poderão reduzir o preço final dos produtos – aliás, se você vende algo hoje e recebe daqui a 30 dias, é óbvio que tem algo embutido no preço. Com mais dinheiro em caixa, o pequeno comércio tem menos necessidade de se endividar para pagar as contas da empresa.

E qual é o problema se o Nubank falir?

Voltemos no tempo. Hoje qualquer um que precise fazer uma pesquisa recorre ao Google. Em questão de segundos, há uma resposta rápida sobre qualquer tema. Mas nem sempre foi assim. Há algumas décadas, aqueles que necessitavam fazer uma pesquisa deveriam recorrer à Barsa. Uma enciclopédia cara, com temas limitados e pesquisa demorada. Com a invenção do Google não há mais Barsa. Mesmo assim, não há uma pessoa – além do dono da Barsa – que queira voltar àquela época.

É simples: em um livre mercado, a inovação inevitavelmente leva novos produtos a destruírem empresas velhas, ideia difundida por Schumpeter. Alguns podem argumentar que, neste caso, foram os mercados, e não uma lei, que levaram a este processo. Mas o governo também tem o seu papel. E um dos papéis é fazer as reformas microeconômicas para deixar as pessoas empreenderem.

Em 2004, eram necessários 46 dias para abrir um negócio no Chile. Em 2016, são apenas cinco. Foi o governo chileno, através de reformas microeconômicas, que permitiu que empresas fossem abertas mais rapidamente. Mas um setor sofreu com isso: o de despachantes e cartórios. De que importa, se a sociedade está toda melhor? No processo de evolução é natural que algumas empresas e setores sofram.

E como fica o Nubank? Gosto muito do cartão. Recomendo fazer. É simples, “gratuito” e uma alternativa a outras bandeiras. Mas, para mim, eles agiram como as gigantes do corporativismo.

Uma sociedade sem enciclopédia Barsa e com Google está melhor. Nenhum governo tem de tomar medida para salvar uma determinada empresa. O contrário disso é capitalismo de compadres que não funcionou muito bem no Brasil. Caso seja verdade que o Nubank vá à falência, esta é a dinâmica do capitalismo.

Leonardo de Siqueira Lima é economista pela FGV e mestre em Economia pela Barcelona Graduate School of Economics.
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