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O custo de um retrocesso neste momento seria imenso e os impactos políticos e econômicos não valem o risco para quem assumir a Presidência

Em outubro de 2002, o cenário internacional era diferente. A economia norte-americana vivia um momento de crescimento. O sistema financeiro estava "teoricamente" seguro no que tange à liquidez dos ativos e a chegada de leis como a Sarbanes-Oxley davam segurança aos mercados.

O Brasil recém-colocado pelo Goldman Sachs dentro do BRIC vivia a ameaça do radicalismo de "extrema esquerda" com a eleição iminente de Lula. Os juros subiram muito tentando conter uma saída compulsiva de capital estrangeiro. Veio o pânico. Selic chegou a 27,5% e o dólar a cerca de R$ 4. Analistas mais conservadores previam uma desregulamentação do sistema financeiro nacional.

A União Europeia tinha bons índices, o grau de endividamento dos países membros ainda não ameaçava os limites do Tratado de Maastrich e a Opep mantinha sob controle os níveis internacionais de abastecimento de petróleo com o preço do barril a cerca de US$ 26. Hoje o barril é negociado em média a US$ 80. A Europa não se recuperou do baque de 2008. Seus principais países estão com indicadores de endividamento acima dos níveis ideais e capacidade de geração de liquidez abaixo do necessário.

Em 2010 há uma inversão de posições internacionais. Os Estados Unidos vivem uma crise de liquidez jamais vista, emitem cada dia mais papel moeda e não conseguem conter a retração econômica. O dólar desvaloriza-se continuamente perante as moedas dos principais mercados internacionais.

O universo multiplicador de "ativos de vapor" calçado em engenharias financeiras e operações de derivativos está definitivamente condenado. Maddoff, subprime, hipotecas e operações de securitização sem lastro obrigaram os investidores internacionais a voltar o capital aos investimentos em produção.

O Brasil destaca-se no BRIC não só pela condição de crescimento, mas principalmente pela segurança de seu ambiente sócio-político. Antonio Palocci volta aos holofotes como homem da política econômica de Dilma e é muito bem visto pela comunidade financeira internacional. Caso Serra seja o vencedor, vale a mesma regra. O retorno de parte da equipe econômica de FHC agrada a maioria dos investidores. O principal será a não desestruturação do sistema estabelecido de economia de mercado.

Não por coincidência, os temas que tem regido esta campanha eleitoral são de característica comportamental. Populistas x liberais (mesmo não sendo a representação da realidade) sem divergências de política econômica. O risco de o Brasil passar a ter um Estado que aumente sua participação e seu papel no nivelamento artificial da economia é quase nulo. O custo de um retrocesso neste momento seria imenso e os impactos políticos e econômicos não valem o risco para quem assumir a Presidência.

Nas últimas semanas estive nos Estados Unidos em contato com gestores de fundos de investimento que estão cada vez mais recomendando alocação de ativos no mercado brasileiro. Um caso interessante a se observar é o do mega investidor George Soros que vendeu todas as suas posições (e não eram poucas) da Petrobras sem ter abandonado sua crença na nossa economia – Soros adquiriu posições na Vale. Isto representou uma particular análise de risco dos movimentos realizados pela Petrobras, principalmente na forma que foi escolhida para sua capitalização e sua indiscutível utilização pelo governo federal como ferramenta política.

Mercados não gostam de Estados intervencionistas. O Brasil não tem esta vocação, o atual tumulto é pelo momento de eleição polarizada. O mundo desenvolvido está acostumado a isso. Nos Estados Unidos os democratas x republicanos, na Inglaterra trabalhistas x conservadores. A formação de consciência política está em última análise ligada a um processo de polarização. É preciso que a população consiga diferenciar um lado do outro – quando houver realmente diferença. Enfim, hoje não se discute "se" o Brasil é um bom destino para investimento. É uma questão de "como" e "quando". Minha dica: estejam preparados o quanto antes, o pioneirismo tende a trazer sempre os maiores múltiplos.

Adeodato Volpi Netto é administrador de empresas com habilitação em Comércio Exterior, especialista em fusões e aquisições pela De Paul University, Chicago (EUA).

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