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5G
Anúncio da tecnologia 5G no aeroporto de Xangai, na China. Imagem ilustrativa.| Foto: Hector Retamal/AFP

É imperativo defender o livre comércio. Uma das razões para o atraso da economia brasileira é a insistência em mantê-la relativamente fechada à concorrência internacional. Todavia, por vezes, é preciso considerar as implicações geopolíticas de fazê-lo.

O mercado 5G alcançou US$ 784 milhões em 2017 e espera-se movimento de US$ 48,8 bilhões em 2027, segundo a Markets & Markets. Seu desenvolvimento é impulsionado pela internet das coisas, por crescentes demanda e velocidade das conexões, dada a cada vez maior centralidade dos celulares e de computadores permanentemente conectados.

As redes 5G são mais flexíveis que as 4G e vão usar bandas de frequência disponibilizadas pela aposentadoria de tecnologias como a televisão analógica, entre outras. Mas podem também se integrar à infraestrutura atual, permitindo a continuidade de prestação de serviços usando hardwares da geração passada. Devem apresentar grande economia de escala e baixos custos facilitando o roaming internacional, por exemplo.

Os maiores competidores no mercado são Huawei (China), Ericsson (Suécia), Samsung (Coreia do Sul), Nokia Networks (Finlândia), ZTE (China), NEC (Japão), Cisco (EUA), CommScope (EUA), Comba Telecom Systems (Hong Kong), Alpha Networks (Taiwan), Siklu Communication (Israel) e Mavenir (EUA). A Huawei é líder do mercado de infraestrutura, com 14 centros de P&D e presença em 170 países.

O desenvolvimento do setor industrial do 5G ainda é nascente, mas deve desempenhar papel vital nos setores manufatureiro, de saúde, industrial, automotivo e, entre outros, o aeroespacial e de defesa.

Isso acende importante sinal de alerta. Uma combinação de hardware e software que seja usada na comunicação entre duas partes pode ser usada para vigiar, espionar e interferir na mesma. E a infraestrutura 5G é um entreposto vital ao processo de transmissão de dados. Disso decorre a necessidade de auditorias de segurança, mas, principalmente, de confiança no fornecedor desses sistemas. Se é verdade que qualquer das empresas listadas pode quebrar a privacidade das comunicações, é evidente que o risco extremo em caso de descoberta não torna esta uma opção atraente do ponto de vista de gestão de negócios.

Todavia, há intrincados mecanismos de participação estatal na regulação e na gestão de empresas na China, que se demonstra cada vez mais agressiva em seus planos de hegemonia geopolítica por meio da construção ilegal de ilhas artificiais no Mar do Sul da China, em Zonas Econômicas Exclusivas de diversos países, bem como de sua estratégia “Colar de Pérolas”, que cerca a Índia em seu próprio território. Isso sem contar a quebra do acordo com o Reino Unido de manter a autonomia de Hong Kong até 2047 e as constantes ameaças a Taiwan.

A estratégia norte-americana, a partir do terceiro quarto do século 20, foi de avalizar o investimento internacional e a integração chinesa aos mercados mundiais, o que se esperava acarretar o fim do regime. Uma crença parecida com a expressa por F.A. Hayek em Lei, Legislação e Liberdade, de ser impossível a convivência de mercados livres com ordens políticas tirânicas. Mas essa ruptura ainda não se verificou e não se sabe o tempo que levará.

O fato é que esse acolhimento da China pelo mercado mundial levou a importantes realocações da estrutura produtiva global e financiou o desenvolvimento tecnológico e militar da China. Isso está levando a crescente instabilidade, ao contrário de maior cooperação pacífica, a ponto de se discutir a ascensão de nova Guerra Fria.

O risco de intervenção do governo chinês nas empresas locais com o intuito de obter informações sensíveis dos demais países é absolutamente não desprezível. Assim como o reforço financeiro decorrente, que pode e deve ser usado para expansão adicional das potencialidades geopolíticas de uma ditadura cuja ambição declarada é obter a hegemonia mundial. Esse é um risco que o mundo livre não pode subscrever. O Brasil deve também banir essas empresas, mesmo que a maiores custos e menor eficiência do 5G.

Christian Vonbun é doutor em Ciências Econômicas pela Uerj e é professor da pós-graduação em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil.

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