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Criminologistas, J. Wilson e G. Kelling desenvolveram a teoria das "janelas quebradas", baseada "num experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo Alto (Califórnia). Durante a primeira semana de teste, o carro não foi danificado. Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e roubado por grupos vândalos, em poucas horas".

Os experimentos foram realizados por outros pesquisadores chegando a conclusões iguais, como, por exemplo, uma cafeteira sobre uma toalha limpa e sem manchas leva, os que se servem do café, a cuidarem com muita delicadeza da limpeza, porém, basta que haja um descuido para virar uma imundície.

Dessas pesquisas deduz-se que o exemplo conta muito, e as suas consequências alastram-se como o vírus da gripe. Os efeitos epidêmicos da má conduta propagam-se rapidamente. É exatamente o acúmulo de descuidos pequenos que gera os estados de transgressão generalizada.

As cidades compõem-se das histórias encarnadas de luzes e sombras, nelas é que se vão forjando tanto a memória pessoal como a coletiva. Na cidade é que se aprende a viver as virtudes ou os vícios. Sabe-se que: "hoje em dia a educação é uma ação que vai mais além das famílias e das escolas, incluindo inúmeros agentes pertencentes à população".

A cidade por si mesma é educativa, mesmo não se propondo intencionalmente a orientar os seus habitantes a determinados tipos de comportamentos. A cultura vigente e os hábitos coletivos influenciam a aquisição de comportamentos por imitação.

Por outro lado a "cidade educadora" é aquela que se desenvolve como fruto da reflexão dos cidadãos, juntamente com os governantes, pois pensam na cidade como um lugar para se viver, e um lugar em que se pode ser feliz. O conceito de cidade educadora surgiu de um movimento, que se iniciou em 1990, em Barcelona, na Espanha, e no primeiro Congresso Internacional de Cidades Educadoras, com o propósito de melhorar a qualidade de vida nas cidades.

De acordo com a professora Figueras Pilar, secretária-geral da Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE), a cidade se torna educadora ao for­­mular uma orientação intencional compartilhada na promoção de condutas que melhoram a convivência e estimulam o respeito aos valores humanos e sociais.

Ao se referir à intencionalidade educadora, ela chama a atenção para o fato de esta ser fruto de um compromisso de caráter político que é necessário assumir. Em primeiro lugar, deve fazê-lo o próprio governo municipal, como o órgão mais próximo da população e mais representativo do cidadão, e simultaneamente, compartilhar esta responsabilidade com todos os cidadãos. Para Pilar, "significa a incorporação da educação como meio e como caminho para a consecução de uma cidadania mais culta, mais solidária e mais feliz".

O propósito é o de criar uma cidade que aspire a ser educadora, de modo que construa uma personalidade própria e sintonizada com a região e o país a que pertence.

Na Carta das Cidades Educadoras, orientadora deste movimento mundial em favor do bem do homem, são propostos três grandes desafios para o século 21.

O primeiro é o de investir em educação, tendo como centro a dignidade da pessoa humana, de modo que cada um desenvolva o seu próprio potencial humano, a sua "singularidade, criatividade e responsabilidade". O segundo é o de criar as condições para que todos, mais jovens e menos jovens, de quaisquer extratos sociais, sejam respeitados, respeitosos e abertos ao diálogo. O terceiro desafio é o de conseguir desenvolver cidadãos para uma sociedade do conhecimento, na qual todos tenham acesso aos bens da cultura e não sejam excluídos do processo de desenvolvimento humano e social. Para isso, para que possam crescer e contribuir para o bem comum da cidade, é necessário ter acesso às tecnologias de informação e aos meios de comunicação.

Essa abordagem exige a participação dos indivíduos e das associações do próprio município, começando por identificar as suas necessidades educadoras, para assim definir os atributos que serão intencionalmente criados ou potenciados por meio de um planejamento, em que se especifiquem a missão, os valores, a visão, os objetivos e os seus desdobramentos em ações educadoras. De acordo com Pilar, "em todo esse processo é indispensável a participação cidadã, porque somente com a apropriação do projeto pelas pessoas é que este contribuirá para o desenvolvimento pessoal e social".

Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é autor de: Responsabilidade Social e Competência Interpessoal (Ibpex, 2006) e Empreendedorismo (Ibpex, 2007). www.sertekpaulo.blogspot.com

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