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Imagem ilustrativa.| Foto: Maicon J. Gomes/Gazeta do Povo

Está nos dicionários: cientista é um substantivo de dois gêneros. Ou seja, masculino e feminino, ao mesmo tempo. E descreve pessoa que se especializou ou se dedica a alguma ciência, especialmente natural ou exata. Apesar disso, cientista ainda é um substantivo de uso preponderantemente masculino. As mulheres compõem metade da população mundial, mas representam apenas 28% dos pesquisadores.

No Brasil não é diferente, embora a boa notícia de que a desigualdade de gênero nessa área venha caindo. A parcela de pesquisadoras passou recentemente de 38% para 49%, número que incorpora as ciências humanas, biológicas e médicas. Mesmo assim, quando consideramos apenas as chamadas STEM – sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática –, as cientistas correspondem a 25% dos pesquisadores.

Algumas iniciativas nascem com o objetivo de mudar esse cenário e quebrar o velho paradigma de que as doces meninas brincam de boneca e os destemidos meninos podem ser o que quiserem. Uma delas é a criação do Dia das Mulheres e das Meninas na Ciência, celebrado a cada 11 de fevereiro, desde 2017. A data foi instituída pela Unesco, a agência da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, para mostrar que o mundo precisa da ciência e a ciência precisa das mulheres.

Tanto é pequena a presença da mulher nessa área de atividade que os destaques são escassos e causam surpresa. No ano passado, apenas um profissional brasileiro integrou a lista dos 20 vencedores do Prêmio Cientista do Ano de 2020, concedido pelo International Achievements Research Center (IARC), de Chicago, nos Estados Unidos, na área ciências médicas e da saúde/ciências da saúde. A honraria coube a uma mulher, a doutora Ângela Wyse, docente no Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Curiosa pelas áreas de ciências da natureza desde a infância, ao se deparar com a Bioquímica na graduação ela soube já na primeira aula o que queria para o resto da vida. A inserção na carreira como pesquisadora se deu quando cursou o mestrado. Ingressou como participante de um grupo que estudava doenças genéticas hereditárias, e dali não saiu mais. No laboratório e em sala de aula, Ângela se torna uma detetive em busca de respostas que expliquem o funcionamento do corpo humano e das doenças que se manifestam em nosso organismo. O prêmio que ela recebeu contribui para mostrar que ciência não tem gênero.

Assim como a batalha da cientista Zélia Ludwig, pesquisadora e professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É mulher, é negra e forte incentivadora da inclusão no mundo da ciência. Ela explica que as meninas precisam de modelos, para se verem representadas. Há 5 mil pesquisadoras no Brasil, mas estão escondidas em seus laboratórios. “E é preciso dar as mãos, mostrar-se unidas para inspirar a entrada das mulheres na ciência. Aos homens é importante mostrar que, se eles estiverem de mãos dadas com as mulheres, a humanidade vai muito mais longe. Trabalhando com a diversidade, alcançamos mais pessoas”, diz Zélia.

E como fazer isso? Ela mesma responde: temos de criar oportunidades para que as meninas enxerguem que também são capazes e merecedoras. Um caminho é mostrar para as crianças como se faz ciência, a partir das primeiras brincadeiras na escola. Em sua trajetória na ciência e na causa das mulheres cientistas, Zélia criou o projeto “Para todas as meninas na ciência”, que incentiva garotas a se interessarem por ciência e construir a representatividade da mulher no campo de Exatas.

A luta de Zélia encontra respaldo em dados como o da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), que aponta que somente 15% dos alunos matriculados em cursos de Ciência da Computação e Engenharia são mulheres. Superar a baixa presença de alunas nos cursos de Exatas envolve uma série de desafios. Mas a iniciativa traz benefícios para as instituições e para a economia do país.

No UniOpet estamos enfrentando esse desafio com resultados animadores. O número de alunas matriculadas nos nossos cursos de Engenharia atinge 28% do total de 705 alunos, bem acima da média nacional. Na faculdade de Engenharia da Produção temos até um recorde. Estamos 150% acima da média do país, com presença feminina de 37% dos matriculados. Incentivamos nossos alunos e alunas à pesquisa, à publicação de artigos e também ao empreendedorismo, caminhos desafiadores que ajudam a romper os estereótipos de gênero, estimulando a autoconfiança. E sobretudo trabalhamos para envolver as alunas em projetos que as preparem para desempenhar papéis e ocupar cargos majoritariamente masculinos, como os de CEOs e diretoras.

Adriana Karam, pesquisadora e implementadora de inovação em educação, é presidente do Grupo Educacional Opet.

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