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| Foto: Marco Bertorello/AFP

A eleição presidencial na Colômbia deixa muitos ensinamentos. A derrota do centro político talvez seja a mais intrigante. Em um país que nunca optou pela esquerda, mas que governou pelo centro muitas vezes, o embate do segundo turno colocará duas visões de país diametralmente opostas diante do eleitor. Pela direita, Ivan Duque, o candidato do ex-Presidente Álvaro Uribe e pela esquerda, Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá.

Durante os dias que passei na Colômbia como observador das eleições, pude observar de forma clara que o país deixou para trás seu tumultuado passado e somente possui olhos para o futuro. O anúncio da entrada na OCDE, assim como o ingresso na Otan, foram duas vitórias no campo internacional que colocam o país na vanguarda da América Latina. Como primeiro da região aceito como membro da Otan, manda um recado ao seu passado, mirando no futuro e na segurança da região. A entrada na OCDE é um marco em dimensões econômicas. Os reflexos deste concerto são claros, inserem a Colômbia em outro patamar na comunidade internacional.

Uribe e Santos foram responsáveis pela continuidade que fez a Colômbia avançar

Pelas ruas do país é possível sentir que as mudanças, tanto econômicas, quanto na frente de segurança, chegaram até a população, que aprova o caminho que o país passou a trilhar desde a posse de Álvaro Uribe, ainda em 2002. O enfrentamento das guerrilhas e dos grupos paramilitares foi o ponto central de seu governo, uma campanha integrada de antiterrorismo e contrainsurgência, que teve no atual Presidente Juan Manuel Santos, um combativo Ministro da Defesa. Neste ponto reside um interessante parênteses, pois apesar de ocuparem lugares diferentes no espectro político colombiano hoje, Uribe e Santos foram responsáveis pela continuidade que fez a Colômbia avançar. Seus governos, apenas com diferentes nuances, sempre seguiram pela centro-direita.

Os avanços de Santos, portanto, somente foram possíveis diante de um cenário construído por Uribe, algo muito presente ainda para a população. Logo, é com naturalidade que observamos a dianteira de Ivan Duque neste primeiro turno, alcançando 39% dos votos. O mesmo, entretanto, não ocorreu com o candidato de Santos, que optando pelo centro, não se credenciou para o embate final. Mas nesse ponto reside um elemento chave, pois a divisão do centro fez com que seus representes ficassem de fora. Juntos, Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín e Humberto de la Calle, do Partido Liberal e mesmo Germán Vargas Lleras, vice-presidente eleito com Santos, teriam votos suficientes para vencer Gustavo Petro e chegar ao segundo turno. Separados, ficaram de fora.

Leia também:O enfermo mundo de palavras onde o esquerdismo vive (artigo de Percival Puggina, publicado em 24 de maio de 2018)

Opinião da Gazeta: Portugal e a eutanásia (editorial de 1º de junho de 2018)

O acordo de paz com as Farc, rejeitado pela população em plebiscito, também foi a tônica do debate. Assim como dois anos atrás, tudo leva a crer que a população tende a fazer a mesma opção conservadora, que mantém o país no mesmo rumo que conhecemos. A visão da Colômbia, enxergada pelo eleitor, não aceita experimentações, tampouco flertes com o populismo. Se, com o avanço do modelo chavista, no passado, o país se viu isolado na região, hoje surge como o farol das boas práticas e do bom caminho a ser seguido por seus vizinhos. Sua influência, depois dos saltos recentes, tende a crescer e se espalhar pela região.

Márcio Coimbra é estrategista político, diretor da Casa Política e observador internacional das eleições presidenciais na Colômbia (2018).
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