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| Foto: Mandel Ngan/AFP

Os dois principais mercados do mundo são da China e dos Estados Unidos, às vezes como compradores, outras como vendedores. Por este motivo, é que toda e qualquer movimentação dentro dessa relação bilateral tem efeitos universais, como por exemplo se uma determinada commodity é sobretaxada entre eles, há a possibilidade de um outro país que a produz sair ganhando.

Por mais que esses mercados afetem o mundo globalizado como um todo, tais ações não são tão simples, já que dependem de fatores além da produção, como a parte da logística, custo e tributos locais.

Entretanto, desde a chegada da administração Trump, existe uma proposta de fortalecer a produção local de produtos, ou seja, o governo estadunidense deseja que a mercadoria que é produzida na China, também seja produzida nos Estados Unidos. Mas, hoje dentro do contexto da globalização, boa parte das produções chinesas são realizadas também no leste asiático, ou seja, essa mudança que os Estados Unidos almejam requer toda uma cadeia logística, que pela China já foi criada com diversos outros países que desenvolvem peças para serem montadas em fábricas chinesas, que então são exportadas.

Se a guerra comercial se firmasse, ainda que ruim em alguns aspectos, poderia ser boa para que o Brasil pudesse se destacar como parceiro de commodities da China

A miopia do governo estadunidense o fez acreditar que era possível instalar facilmente uma cadeia de produção nesse nível, o que o fez entrar em guerra comercial com a China, ao sobretaxar a importação, principalmente de eletrônicos a fim de ver como isso afetaria a indústria local. Só que ao instalar essa produção, a indústria norte-americana enfrentou diversos desafios, como a questão salarial que é muito mais alta, relacionamentos com sindicatos e compra de matéria prima já que boa parte é importada. Então, os próprios comerciários começaram a perceber que essa cadeia não está sendo produtiva para eles e que se continuar assim todo mundo pode sair prejudicado.

Os Estados Unidos viraram o centro de design, criação e desenvolvimento de diferentes segmentos, mas os centros de produção realmente acabam sendo os países de baixo custo. Como a China não gostou da postura do governo Trump, seus governantes se posicionaram de forma a enfrentar e sobretaxar a chegada, por exemplo, de soja, milho e insumos que ela é acostumada a comprar dos Estados Unidos.

Por conta disso, houve um limbo durante alguns meses, mas agora em dezembro durante um encontro em Buenos Aires, os presidentes Donald Trump e Xi Jiping resolverem estabelecer uma pausa nessa guerra comercial porque perceberam que ninguém vai ganhar nada, e combinaram de fazer a troca de alguns produtos e insumos para ver como esse relacionamento pode acontecer. O governo chinês se comprometeu a comprar commodities norte-americanas, o que pode gerar grandes oportunidades de aumentar o desenvolvimento dessas negociações e torná-las mais tranquilas.

Opinião da Gazeta: A guerra comercial entre Estados Unidos e China (editorial de 19 de setembro de 2018)

Leia também: Trump vs China: Muito além do aço (artigo de José Roberto Baschiera Junior, publicado em 9 de maio de 2018)

Mas isso ainda pode afetar os demais países. Se a guerra comercial se firmasse, ainda que ruim em alguns aspectos, poderia ser boa para que o Brasil pudesse se destacar como parceiro de commodities da China. Ainda assim, teriam de ser levadas em conta a capacidade do mercado brasileiro, como também questões de produção e clima. Levando em consideração que a China já é um dos principais compradores de commodities de vários países.

Todo esse desejo geopolítico e comercial afeta outras partes da indústria do comércio, principalmente a logística. Se há de fato uma mudança de relação de compra e venda entre dois países, há também na rota de navios, além de fatores cambiais. Com isso em mente, é necessário estar atentos para acompanhar os próximos capítulos dessas negociações para entender o que pode acontecer no comércio exterior mundial.

Almir Neves, conselheiro da LogComex, é graduado em Administação de Empresas com especialização em Negociação pela Universidade de Harvard. Possui MBA na FGV em General Management.
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