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O principal problema que envolve a palmada, algo tido como comum, como praticamente um ato de advertência, é que dificilmente alguém dá um castigo físico quando está calmo

Ainda hoje é bastante comum as pessoas relacionarem a ideia de dar educação aos filhos ou discipliná-los com atos que incluem agressividade, palmadas, castigos. Proibida ou não por lei, o bom senso já condena por si só esse abuso que não educa, mas cria pessoas agressivas e infelizes.

Esse é paradoxalmente um hábito quase cultural no nosso país, cujos habitantes nativos, os índios, repudiavam a ideia de bater em crianças preferindo educar pelo exemplo. Mas a chegada dos jesuítas no século 16 introduziu a ideia de que amar aos filhos correspondia a corrigir com rigor seus erros, usando de severidade, inclusive física, coisa bastante comum na perspectiva judaico cristã. Segundo o Talmud, por exemplo, o pai tinha direito de vida e morte sobre o filho, o que foi modificado com o tempo. Na civilização greco-romana era permitido ao pai, sob algumas condições, sacrificar um filho recém-nascido.

No Brasil, a coisa evoluiu de tal modo que no século 18 era lícito que os professores fizessem o uso das "palmatórias" como instrumento de castigo, e esse passou a ser símbolo de punição e submissão à autoridade.

O tempo passou, a sociedade que tinha o objetivo de criar um cidadão "obediente" também foi vencida pelo anseio de educar pessoas responsáveis, autônomas.

Entretanto a agressividade é de fato um comportamento natural no ser humano até os 3 anos de idade e, por isso, crianças precisam de pais e familiares que as ensinem a controlar suas reações à frustração e à raiva, para que se tornem cada vez mais raras à medida que a criança cresce. Formas diferentes de demonstrar seu desagrado devem ser ensinadas para serem as substitutas desses momentos.

Novas visões educativas mostraram que a criança nunca esquece o castigo recebido, mas não entende perfeitamente a ligação entre seu erro e a violência a que é submetida. Por isso, além de sofrer, não aprende um novo comportamento e, o que é pior, pode até não repetir o erro na frente dos pais, mas, na primeira ocasião, volta a ter a mesma conduta, ou outra, mais violenta contra terceiros. A punição não ensina autocontrole, não desenvolve o desejo de copiar comportamentos admirados pelas crianças. Aliás, por ninguém! Ao bater, os pais legitimam a agressividade, a violência como linguagem social para o filho, como forma de obter e exercer poder e, daí para frente, não é difícil entender o que acontece hoje nas ruas e até nas escolas.

O principal problema que envolve a palmada, algo tido como comum, como praticamente um ato de advertência, é que dificilmente alguém dá um castigo físico quando está calmo, e daí a usar outros tipos de violência, o caminho é bem curto e rápido. E, na verdade, o adulto que bate está zangado consigo mesmo, exasperado por não dar conta das demandas que toda criança traz em sua educação. O ideal é que a criança nunca veja seus pais fora de controle, para que o respeito e a admiração não diminuam.

Mas não dá para viver e ensinar a criança a se comportar sem normas. E as consequências do não seguimento dos combinados são as punições inteligentes.

Punição eficiente é a que conscientiza a criança do próprio erro e lhe dá caminhos alternativos para agir melhor. Assim, pedir desculpas apenas para agradar aos pais não vale: é preciso que a criança explique porque está arrependida e como deveria ter agido!

No momento da tensão, falamos o que não pensamos e, acabamos por estabelecer punições ridículas do tipo: você ficará um ano sem televisão! Ou nunca mais vou te deixar andar de bicicleta! Como você não poderá cumprir com o que ameaçou, será rapidamente desmoralizado e perderá o controle.

Para faze valer as normas de conduta, facilitar sua vida e a compreensão das crianças, estabeleça com a criança um castigo no momento em que definir as regras: se não cumprir uma obrigação perde um privilégio.

Quando a criança aprende a cumprir as regras ela merece uma gratificação: um reconhecimento e elogio são ideais. Todos ficarão felizes, a vida familiar será de plena harmonia e os pais terão a certeza de estar criando uma pessoa admirável!

Maria Irene Maluf, psicopedagoga, especialista em Educação Especial, é editora da revista Psicopedagogia da ABPp.

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