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Felipe Lima

Recebo notícias de muitas coisas que estão acontecendo com os cristãos e outras minorias religiosas: perseguidos, violentados, torturados, assassinados e até crucificados por fanáticos. Quando vejo tudo isso, eu penso: meu Deus, como o mal está desesperado! Esse desespero vem de um limite que o mal tem: a morte. Nenhum mal vai além da morte.

Seguir o cristianismo possibilita estar em paz, não importa o que aconteça. Quando esteve no Brasil o padre Douglas Bazi, sacerdote iraquiano que foi sequestrado e torturado por terroristas, ele contou que, ao perceber que suas algemas tinham dez elos, aproveitou para rezar o terço. E disse: “foi o terço mais lindo que já rezei na minha vida”. Impressionados pela atitude do padre Douglas, alguns terroristas até pediam conselhos para ele quando os líderes não estavam por perto.

Quando o padre sírio-católico Jacques Mourad foi sequestrado pelo Estado Islâmico, em 2015, um dos líderes do grupo terrorista debochou da fé do padre Mourad, dizendo para ele “considerar o sequestro como uma espécie de retiro espiritual”. A reação do padre Mourad foi, no entanto, não ficar com raiva do deboche; pelo contrário, as palavras do terrorista encontraram eco no coração do sacerdote, que a partir daquele momento encarou realmente o sequestro como um retiro e ficou em paz dali em diante, pensando: “Deus consegue até mesmo usar o coração de um terrorista do EI para me mandar uma mensagem de amor”.

Nem sempre foi clara para mim essa visão de que o amor de Deus supera todo mal

Com esses exemplos é possível entender o desespero do mal quando encontra um bom cristão. Como presidente, no Brasil, da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, trabalhamos muito para que esses cristãos perseguidos saibam que não estão sozinhos, que existem milhares de benfeitores que ajudam com orações, doações e também difundindo as notícias que recebemos. Para isso publicamos a cada dois anos o Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo, não só sobre os cristãos, mas sobre todos que são perseguidos em nome da fé.

Nem sempre foi clara para mim essa visão de que o amor de Deus supera todo mal. Quando jovem, eu já estive na Nigéria, em Biafra, ajudando crianças no meio de uma guerra. Sentia-me feliz em poder ajudar e, ao mesmo tempo, triste, pois todos os dias via crianças morrendo na fila de espera por comida. Um dia, o lugar onde as crianças ficavam foi bombardeado. Todas morreram, eu quase fui atingido. Entrei em uma crise profunda: como Deus pode ser amor se Ele permite que uma bomba mate as crianças? Para piorar, precisei deixar o lugar imediatamente porque Biafra estava perdendo a guerra e os últimos aviões estavam saindo. Novamente tive outro choque ao voltar para a Europa e ver tantas pessoas com tantos bens, muitos deixando comida no prato. Entrei em uma luta interna para descobrir onde estava o amor de Deus e o porquê de Ele permitir isso. Por que dar a liberdade de adultos matarem crianças inocentes?

Um dia, mais brigando do que rezando com Deus, veio uma pergunta no meu coração: onde estão aquelas crianças? E aí eu entendi que elas estavam com Deus, então estavam melhor do que eu. Meus olhos se abriram para uma realidade que eu ainda não tinha acolhido: a vida além da morte, a vida em que o mal não tem mais poderes. Então, decidi doar a minha vida para os que mais precisam e me tornei franciscano.

Concluo que não preciso mudar os outros, não preciso converter ninguém, basta que eu mude, que eu me converta. Então, todos que virem o amor com que tento viver irão querer mudar também e o mal, mais uma vez, será derrotado. Se eu odiar, gerarei mais ódio; seu eu amar, gerarei mais amor. Basta escolher.

Frei Hans Stapel é presidente da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre e fundador da Fazenda da Esperança.
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