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Há muito tempo se sabe que consumimos em rituais, e o Dia da Criança é uma das datas mais importantes do calendário promocional. Segundo o presidente da Fecomércio paranaense, esta já é a quarta data mais importante do ano em número de vendas, já que as crianças não são apenas presenteadas pelos pais, mas também por padrinhos, avós e tios. Ainda segundo os dados da Fecomércio, 82% dos paranaenses afirmam que vão presentear neste Dia da Criança. A cada ano este número aumenta, demonstrando o papel cada vez mais relevante que o consumo exerce em nossas vidas.

O ser humano consome, na maioria das vezes, para pertencer a algum grupo e/ou para se distinguir de outro grupo. Dessa forma, construímos nossas identidades – ou seja, através do uso e das apropriações dos bens, atribuímos significado às coisas e ao mundo. E as crianças aprendem isso desde muito cedo. O especialista americano em comportamento do consumidor Michael Solomon afirma que a criança aprende com os pais a consumir, pois tende a imitá-los. Por isso muitas empresas transformam produtos destinados ao universo adulto em brinquedos infantis, como, por exemplo, celulares, notebooks, produtos de beleza e itens de cozinha, que encontrarmos hoje com facilidade nas lojas em versões infantis.

O mercado de produtos e serviços destinados ao público infantil está em constante crescimento. O mundo infantil, portanto, é construído cada vez mais em torno do consumo. O que temos visto mais recentemente é que, se antes os anunciantes precisavam atingir os pais para que determinado produto fosse comprado, hoje basta que atinjam as crianças; afinal, elas têm cada vez mais poder nas decisões familiares sobre a compra. O que não podemos esquecer é que, quando falamos de crianças, precisamos lembrar que elas são mais suscetíveis às influências externas e têm pouco discernimento sobre a lógica capitalista.

Neste Dia da Criança, precisamos refletir sobre a importância de ser presente para uma criança e não apenas presenteá-la. Discute-se muito, há algum tempo, sobre a falta de tempo dos pais para se dedicar aos filhos por diversos motivos, ou seja, eles já se sentem de alguma forma culpados por passar pouco tempo com seus filhos, e uma das formas mais fáceis (e até mesmo esperadas) de "resolver" esse sentimento de culpa é comprar um presente para que seus filhos se sintam amados.

Esses presentes acabam por representar uma espécie de materialização do afeto e, geralmente, quanto mais caro for o presente, maior seria o seu amor pela pessoa. Percebe-se, portanto, nas relações de troca uma possível inversão de sentido, uma transferência de significação para bens materiais que, no entanto, deveria ser suprida por relações afetuosas no contato, na preocupação, no pensamento, no estar junto com outras pessoas.

Ver a alegria de uma criança ao receber um presente é uma das cenas mais valiosas que podemos presenciar. O objetivo não é deixar de agradá-­la com um presente, mas demostrar o quanto uma conversa, uma brincadeira, um carinho e um abraço são também motivo de alegria e demonstração de afeto, talvez muito mais importantes para o desenvolvimento da criança.

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