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Os assuntos ligados à exclusão social dos portadores de necessidades especiais vão ganhar notoriedade em 2006. Um importante fator de alavancagem desse processo é o tema central eleito pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para sua campanha deste ano: "Fraternidade e pessoas com deficiências".

A intenção é sensibilizar a população sobre as dificuldades vividas por essas pessoas, que cotidianamente são vítimas de preconceito, marginalização e conseqüente exclusão social.

Em sua edição de 12 de fevereiro, o jornal Gazeta do Povo publicou a reportagem intitulada "O valor do trabalho especial", pela qual apresentava o exemplo da empresa Valor Brasil, de Curitiba, especializada na fabricação de embalagens em TNT (tecido não-tecido). A Valor Brasil literalmente valoriza e acredita na capacidade profissional dos portadores de necessidades especiais, que compõem 80% de sua mão-de-obra – e, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, estão gerando lucros financeiros e... sociais. No mesmo artigo, cabe ressaltar a afirmação do porta-voz da Escola Especial do Colégio Bom Jesus, entidade investidora e parceira do projeto da Valor Brasil, para quem "uma empresa que não tem capital humano não consegue se manter".

Tomo a liberdade de juntar-me à CNBB a fim de ser mais um agente disseminador da reflexão sobre esse importante tema, em especial no mundo corporativo. Então, como cidadão, consultor em Gestão de Pessoas e pai de família, pergunto-me: o que posso fazer para alterar, nas minhas relações interpessoais, atividades do dia-a-dia e dentro dos meus limites, esse quadro de exclusão que aflige os portadores de necessidades especiais? Por tabela repasso a você, caro leitor, que se encaixa no perfil de empresário ou executivo, a mesma pergunta: qual a contribuição, efetiva e adicional, que posso dar para alterar essa situação no âmbito da minha empresa? Faço questão de salientar o "adicional" por entender que se trata de iniciativas que vão além das obrigações legais e constitucionais.

Os portadores de necessidades especiais não clamam por pena, mas sim por mais chances de competir no mercado de trabalho. Desejam apenas mais respeito e dignidade, além de maiores facilidades de acessos a serviços e equipamentos públicos, às atividades culturais e de lazer, entre outros direitos.

Claro que numa sociedade que idolatra os mais fortes, belos, saudáveis e fisicamente perfeitos, essa tarefa é um verdadeiro desafio. Mas, a meu ver, a solução passa necessariamente por uma mudança de visão e postura do meio empresarial, aí incluídos os gestores de pessoas.

Cabe a nós, profissionais da área de RH, assumir que o problema existe e encará-lo de frente, com coragem e determinação. Nossa missão é dar o exemplo, adotando uma postura de aceitação e inclusão, aliada a um sentimento de solidariedade, fraternidade e de total respeito. Como? Por meio da busca de alternativas que possibilitem ampliar o campo de atuação dos trabalhadores especiais nas empresas, além, é claro, de campanhas internas e externas de conscientização sobre o valor do trabalho especial, compreendendo desde patrões e colaboradores até clientes e fornecedores. Só assim poderemos quebrar as barreiras dos preconceitos e da exclusão social a que esses cidadãos como nós são submetidos, mas que podem ser extremamente úteis se cuidadosamente e pacientemente treinados e acompanhados.

Basta pensarmos na hipótese, infelizmente real, de que todos nós estamos sujeitos a nos tornarmos ou termos de vir a conviver, no ambiente familiar ou profissional, com um portador de necessidades especiais, em decorrência de uma fatalidade genética, de uma doença do trabalho, de um acidente e de tantos outros fatores.

A solução está ao nosso alcance. Portanto, motivados pela campanha da CNBB e caminhando na esteira dos avanços da convivência humana, vamos abraçar esta causa, dizendo um sonoro "não à exclusão social".

Armelino Girardi é consultor e palestrante em Gestão de Pessoas e ex-presidente da ABRH-PR.

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