• Carregando...
 | Divulgação/Twitter
| Foto: Divulgação/Twitter

“Divergente” é um adjetivo de dois gêneros na língua portuguesa e que qualifica algo ou alguém que se difere, discorda, se opõe e se afasta dos demais indivíduos que pertencem ao seu grupo. Filme com este nome foi lançado mundialmente em 2014, e conta a história de um mundo pós-guerra, onde os seres humanos foram divididos em cinco facções diferentes, de acordo com a principal característica de cada indivíduo: Franqueza (para os honestos), Amizade (para os generosos), Audácia (para os corajosos), Erudição (para os inteligentes) e Abnegação (para os altruístas). O intuito era garantir a paz na humanidade.

A posição dos cidadãos era definida com base em suas filiações e personalidades. O livre arbítrio, entre outros direitos, foi praticamente negado à população. Aqueles que não podiam ser encaixados em apenas um dos grupos ficaram conhecidos como “divergentes”, representando uma anomalia perigosa à “ordem” vigente, contra a qual terminaram se rebelando.

Hoje, nos meios de comunicação e nas redes sociais, vivemos uma experiência similar de divergência. Aqueles que utilizam as redes sociais e postam conteúdos em desacordo com o que dizem as mídias tradicionais passam a ser considerados ameaças à ordem midiática vigente. Um exemplo é a atuação dos influenciadores digitais, que vêm catalisando modificações nas discussões políticas capazes de gerar efeitos diretos na sociedade, contrários ao que a grande imprensa propaga. Casos recentes, como a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno (PSL), e a eleição do senador David Alcolumbre (DEM-AP) à presidência do Senado refletem o poder das ações impulsionadas por profissionais da internet e cidadãos que representam a voz das ruas.

É preciso repensar a maneira de como os veículos jornalísticos tratam seu público

Marco Aurélio Ruediger, diretor de Análise de Políticas Públicas na Fundação Getúlio Vargas, não acha que “a pressão feita por esses grupos em ambientes virtuais abale por si só a democracia. Pelo contrário. Pode até aprimorá-la. O que abala a democracia é não se saber se parte desses grupos é orgânica ou está sendo influenciada por algoritmos que deformam a real participação popular”, pondera. Mas essa nova realidade de participação causa apreensão por parte da grande mídia, que, por ser uma entidade de direito privado, vem perdendo a cada dia seguidores, em especial pela falta de preocupação com a isenção e a verdade.

Recentemente, as redes compartilharam divergências da especialista Ilona Szabó em relação ao governo quanto a temas como armamento e política de drogas, além do fato de ela ter se posicionado contra a candidatura de Jair Bolsonaro. O resultado foi sua rejeição para o Conselho de Política Criminal e Penitenciária. A mídia reagiu, alegando que a pluralidade perdia para interesses polarizados de grupos do mundo virtual. Por que não aproveitou o momento para fazer um mea culpa diante de tanta repercussão negativa e buscar ouvir a voz dos que discordam?

É preciso repensar a maneira de como os veículos jornalísticos tratam seu público. Há tempos deixaram de ser neutros e de ter como prioridade a procura da verdade. São os verdadeiros influenciadores negativos, em sua maioria. Têm as ferramentas para informar os fatos, ou se utilizam delas para confundir? Nos dias atuais, quem usa mais as redes pressiona mais e ganha espaço. Isso é irreversível. Quem as usa melhor? Quem se organiza melhor? Grupos de militantes que se organizam e fazem pressão a partir do meio digital.

Leia também: O MEC se perde em factoides (editorial de 3 de março de 2019)

Leia também: As “cartas de intenções” de Bolsonaro e seus ministros (editorial de 6 de janeiro de 2019)

O cidadão tem agora a possibilidade de fazer microcontribuições diárias a partir de seu telefone celular, por exemplo. Ou seja, houve uma potencialização do indivíduo como ente político. Esse indivíduo sabe o que quer, tem um bom conhecimento político e social, valoriza bem o seu voto e exige que ele seja respeitado pelos políticos eleitos. Com argumentos fortes, defende suas posições e consegue discordar até dos grandes nomes da elite de jornalistas, que acabam sem justificativas para retrucar.

Essa reviravolta gerou uma nova narrativa vinda dos grandes jornais, voltada para a importância da manutenção de jornalistas de todas as tendências ideológicas em seus quadros. A razão dessa pluralidade é apenas uma tentativa de proteção dos empregos e da credibilidade em baixa dos jornais, que antes dominavam o mercado das notícias. Na verdade, trata-se de questão de sobrevivência própria e da democracia apregoada por essa “imprensa extrema” que não dispensa doutrinações. Os esquerdistas criticam os que ousam discordar de suas linhas-mestras, acusando-os de fascistas. Pregam a regulação do setor de comunicação no país sob falsos pretextos, sendo este o verdadeiro controle social dos meios de comunicação e a decisão exclusiva sobre o que pode ser publicado ou divulgado. Lutam por um marco regulatório capaz de “democratizar” a mídia no país, quando querem mesmo a censura à imprensa.

A mídia está em pânico e os últimos acontecimentos têm revelado o poder crescente da pressão popular, até então deixada em segundo plano. Parece que uma nova era se anuncia, quando os divergentes, finalmente, deixam de ser um grupo rotulado e passam a ser levados em conta, ouvidos e atendidos.

Carlos Arouck, formado em Direito e Administração, é policial federal e instrutor de cursos na área de proteção, defesa e vigilância.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]