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Fim de ano é o momento de fazer balanço e projeções. Aventurar-se a fazer um prognóstico para 2009 é risco incomensurável. Mas o pior é que fazer um balanço de 2008 também é arriscado: a menos de um mês de fechar o ano, ninguém sabe o que será do ano que já passou. O que dizer? O melhor é começar pelo que parece provável. Embora seja bom não esquecer que o pouco provável também acontece, ao menos de tempos de em tempos.

O ano termina mal. Vivemos uma crise de confiança global que atinge o centro do sistema financeiro internacional. Temos um encadeamento insano de vários efeitos muito graves: a crise imobiliária americana e as inovações não reguladas dos mercados financeiros contaminaram o passivo de muitas instituições; a aversão global ao risco no sistema financeiro deprime ainda mais os preços dos ativos de todos os mercados; a crise de confiança interrompe os fluxos entre os agentes financeiros e impacta no financiamento das operações rotineiras da economia real; a fuga para os ativos de menor risco traz consigo uma forte valorização do dólar, mais acentuadamente frente às moedas dos países emergentes; a queda dos preços das commodities, a retração da demanda mundial e a saída líquida de recursos podem colocar muitos países com déficits em conta corrente numa situação catastrófica.

E mais: uma eventual guerra comercial entre os emergentes, deflagrada pela redução das importações dos países desenvolvidos, pode significar o oposto do que significava anos atrás. Em vez de auxiliar a reduzir pressões inflacionárias, pode alimentar uma deflação que agrave o cenário depressivo. Por fim, a reversão espantosamente rápida e universal da confiança das famílias e dos investidores reforça ainda mais o sentido depressivo da crise, lançando previsões sombrias para 2009.

No Brasil, a secagem das fontes de financiamento externo chegou ao ponto de obrigar a Petrobras a concorrer com as pequenas e médias empresas pelo crédito limitado disponível nos bancos públicos, os quais são os únicos que possuem ainda alguma disposição de conceder crédito para as atividades produtivas. Isto é uma evidência de que corremos o risco de um colapso da atividade produtiva por falta de financiamento e de políticas públicas apropriadas de apoio à produção.

O que o governo brasileiro pode fazer para atenuar esse quadro sombrio? Pode começar por uma redução significativa da taxa de juros básica, a exemplo do que vem sendo feito no mundo inteiro. Neste cenário de forte desaceleração do crescimento e queda acentuada nos preços das commodities não há nenhum risco significativo de recrudescimento de inflação.

Em termos do balanceamento de riscos entre inflação e recessão, não há nenhuma dúvida de que o risco de recessão é muitíssimo maior, visto que poderá desestruturar partes estratégicas do sistema produtivo brasileiro e desencadear uma onda de desemprego.

Uma redução de 450 pontos base na taxa básica de juros pode ser realizada de maneira relativamente suave nas próximas seis reuniões do Copom, a começar pela que acontecerá agora em dezembro. Isso daria uma redução de 75 pontos base por reunião. Dessa forma, poderíamos chegar no segundo semestre de 2009 com uma taxa básica de juros em torno de 9,25% ao ano em termos nominais, ou de 4% ao ano em termos reais. Trata-se de uma taxa real ainda bastante atrativa, considerando-se o cenário internacional de taxas reais de juros próximas de zero ou até negativas.

A redução da Selic em 450 pontos base geraria uma economia anual de cerca de R$ 60 bilhões. Esses recursos poderiam então ser utilizados para aumentar substancialmente a capacidade do BNDES de atender situações emergenciais e simultaneamente dar continuidade às ações estratégicas de apoio ao crescimento da economia brasileira num patamar socialmente aceitável, constituindo assim uma verdadeira política anticíclica.

Será difícil completar agora a segunda parte desse artigo: comentar as boas notícias que nos aguardam para 2009. Mas elas existem. Falaremos disso logo adiante. Minha confiança diz que teremos tempo para tanto e também, curiosamente, ânimo e muito assunto para discutir.

A hora agora é mais de cuidar da sobrevivência. Nesse momento é disso que se trata: travar a luta da conjuntura. A mim só resta desejar a todos que sobrevivam. A estratégia fica para depois.

Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná.rloures@fiepr.org.br

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