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São tantas as diferenças entre essas duas capitais e seus países que não me atrevo a fazer comparações políticas ou culturais, mas apenas econômicas, principalmente sobre a competitividade industrial.

Vamos à realidade. Tomemos como exemplo o setor de alumínio, que representa um faturamento de R$ 55 bilhões por ano no Brasil. A produção de alumínio primário (proveniente da bauxita e da alumina) vem caindo ano após ano, chegando a incríveis 26% de queda em 2014 em comparação com 2013, e provavelmente nova queda de dois dígitos neste ano. Produzimos hoje a metade do alumínio produzido em 2008. Fechamos cinco fábricas nos últimos cinco anos. Em 1992, o Brasil era o quinto produtor mundial (e exportava parcela significativa do que produzia); em 2014 o Brasil se tornou, pela primeira vez, um importador líquido do metal.

Por que essa deterioração tão rápida? Certamente não por causa do mercado. O consumo dos produtos de alumínio, como latinhas de bebidas, estrutura de janelas, mobiliário, embalagens de alimentos e remédios, componentes de automóveis e aviões, por exemplo, crescem em taxas superiores a 5% ao ano.

Entre os motivos da queda estão as tarifas que fazem com que a energia elétrica para o consumidor industrial brasileiro seja uma das maiores do mundo. Se Pequim fosse Brasília, o alumínio primário não seria produzido na China. Os dois principais custos para a obtenção do metal primário – bauxita e energia – são menos competitivos na China que no Brasil. A China tem bauxita, mas não de qualidade tão boa como a nossa; tem uma matriz energética muito problemática, à base de carvão, poluente e de altíssimo custo – cerca de 24% superior ao da geração hidrelétrica.

Entre os motivos da queda estão as tarifas que fazem com que a energia elétrica para o consumidor industrial brasileiro seja uma das maiores do mundo

Para garantir a competitividade, a China defende com unhas e dentes a produção doméstica de alumínio. Esse dinamismo fez com que a China produzisse, em 2014, metade do alumínio do planeta. Além de ser o maior produtor e exportador mundial, é disparado o país que mais investe em novas unidades e novas tecnologias de produção do metal. Esse gigante dobrou a sua produção em apenas sete anos! Definitivamente, Pequim não é Brasília.

Voltando ao Planalto Central, a indústria brasileira do alumínio não quer subsídios ou condições especiais; quer as mesmas condições de competitividade no mercado internacional e isso não é uma questão de custos, mas sim de política industrial. Se o alumínio é uma commodity com preços estabelecidos no mercado mundial, e se os custos da energia ao consumidor industrial no Brasil são dos mais altos do mundo (e subindo), um dia essa conta não fecha mais.

Essa mesma situação acontece para toda a indústria brasileira e, especialmente, para os setores eletrointensivos. Não há história recente de país emergente que tenha conseguido melhorar o patamar de sua economia sem que o governo tivesse uma agenda de competitividade da sua indústria. Isso significa pensar em cadeias globais de valor, buscar segmentos de maior conteúdo tecnológico e preservar os insumos básicos. Não vamos sair de um crescimento medíocre se o Brasil aceitar passivamente esse modelo agro-mineral-exportador sem uma estratégia clara para melhorar a sua competitividade. Um pouco de Pequim em Brasília iria ajudar a retomada do crescimento brasileiro.

Milton Rego, economista e engenheiro mecânico, é presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
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