A inteligência artificial tem sido a tecnologia mais transformadora dos últimos anos. Sua aplicação é tão impetuosa, que o debate envolvendo o seu impacto se estende por praticamente todas as áreas, incluindo saúde, finanças, transporte e, de maneira crescente, educação.
No contexto educacional, este recurso se destaca pelo oferecimento de um leque de oportunidades para um ensino mais eficaz e envolvente, passando pela personalização do aprendizado, o aumento do engajamento dos alunos e a possibilidade de repensar o papel do professor na sala de aula.
Os docentes, aliás, segundo pesquisas recentes, são um dos grandes entusiastas no uso da tecnologia como instrumento de educação. De acordo com a pesquisa “Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil”, divulgada pelo Instituto Semesp, três em cada quatro educadores do país aprovam o uso da IA na rotina de estudos. Apesar disso, apenas 39,2% deles afirmam que já utilizam soluções baseadas no recurso como ferramenta de ensino hoje em dia. Panorama esse que deve crescer significativamente nos próximos anos.
A IA já tem se mostrado um fenômeno de impactos valiosos para a formação dos alunos. Uma das vantagens mais expressivas é a possibilidade de personalização do aprendizado
Por meio de um trabalho baseado na alta capacidade de exploração de dados, ferramentas como Duolingo e Khan Academy utilizam algoritmos de inteligência artificial para “gamificar” os conteúdos escolares em níveis assertivos para a dificuldade e desempenho de cada aluno. Assim, a tecnologia permite a exposição de novas matérias de maneira mais agradável e interativa, incentivando os estudantes a explorarem novos conteúdos de forma lúdica, aumentando a motivação e o engajamento.
Ensino otimizado
Além disso, a IA potencializa a chamada aprendizagem ativa, que é comprovadamente muito mais eficaz do que o tradicional método passivo, em que o professor expõe a matéria ao aluno na frente da sala. Ao engajar estudantes em atividades práticas, pesquisas e debates, a ferramenta promove um ambiente de educação dinâmico e envolvente.
Os professores também se beneficiam de forma expressiva pela adoção da IA. Ao automatizar tarefas repetitivas como avaliação e correção, a tecnologia libera os educadores para se concentrarem em atividades de maior impacto pessoal, como mentoria individualizada ou o desenvolvimento de competências socioemocionais, por exemplo. Tal mudança de foco permite que os docentes estabeleçam um forte vínculo com seus estudantes, promovendo um aprendizado mais personalizado e humanizado - algo que muitos consideram impensável com o prenunciado avanço da tecnologia.
Em 1984, um psicólogo chamado Benjamin Bloom, realizou um estudo que levou o nome de "2 sigma problem". Ele constatou que uma tutoria personalizada, que garanta ao aluno domínio de cada matéria estudada, eleva a média dos estudantes em 2 desvios padrões ou o suficiente para tirá-los do percentil 50% para 98%. Por mais que a pesquisa tenha sido realizada por tutores personalizados humanos, é válido inferir que se fosse personalizada por inteligência artificial também traria grandes benefícios acadêmicos para os alunos.
Pontos de atenção
Por outro lado, é necessário ter em mente que a implementação de uma tecnologia tão poderosa, numa área sensível e crítica, também cria desafios. Neste primeiro momento, a privacidade de dados dos estudantes e o potencial de vieses nos algoritmos são preocupações reais, que devem ser cuidadosamente gerenciadas por parte dos gestores das instituições. Outro alerta está direcionado ao risco de uma dependência excessiva da tecnologia, o que representaria o resultado contrário do desejado, podendo gerar a despersonalização da experiência educacional se não for adequadamente supervisionada por humanos.
Se tratando de Brasil, a integração da IA no sistema educacional enfrenta ainda outros desafios adicionais de impacto, como desigualdades no acesso à tecnologia e infraestrutura insuficiente em muitas escolas. Além disso, a capacitação por parte dos profissionais da educação também é uma necessidade urgente para que eles saibam utilizar as novas tecnologias da melhor forma possível.
Hora da revisão
A grande verdade é que a IA está fadada a transformar o cotidiano de todos - seja aluno, professor, empresário, advogado ou qualquer outra profissão. Negar sua presença ou deixar de lado esse potencial tecnológico é não só deixar de aproveitar uma tecnologia poderosa para o aprendizado, mas também formar cidadãos que não estarão preparados para um futuro que tem tudo para ser moldado a partir dela. Isso não se trata, no entanto, de substituir professores ou eliminar a interação humana na sala de aula. Aliás, pelo contrário, a IA se apresenta como uma ferramenta poderosa para amplificar o potencial da educação, colocando os alunos no centro do processo de formação e preparando-os para um futuro promissor.
Em suma, a IA tem o potencial de revolucionar a educação, proporcionando um ensino personalizado, ativo e envolvente. O Brasil hoje se encontra em uma posição importante para assumir tais mudanças, exigindo um esforço coordenado entre governo, educadores e sociedade civil para garantir que a IA seja uma força positiva na educação. Afinal, na sala de aula do futuro, a inteligência estará cada vez mais presente, e a educação cada vez mais humana.
Fernando Gabas é formado em Administração, fundador da Academia Soul, especialista em tecnologia para educação, competências socioemocionais e habilidades. Atuou como sócio e CEO da divisão internacional da Wise Up. Em 2013, passou a se dedicar à área de educação integrada a novas tecnologias.
Deixe sua opinião