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Educação: Não basta melhorar
| Foto: Pixabay

Em entrevista publicada no Correio Braziliense, o educador Mozart Neves Ramos deu uma aula para enfrentarmos a tragédia de nossa deseducação. Para Mozart, o importante é construir a escola atendendo às exigências dos tempos atuais. Mas precisamos passar à visão educacionista que nos diga como levar as novas ideias para as 200 mil escolas e aos 2 milhões de professores que atendem aos 50 milhões de alunos. Como levar para todo o país as boas experiências de escolas e de cidades já em prática hoje.

O primeiro passo é não nos contentarmos em comparar a condição hoje com a educação de 1989, e buscarmos fazer o necessário para que em 2049 estejamos tão bons quanto os melhores do mundo. Vencer essa modéstia é um grande obstáculo. Se não nos convencermos disso, vamos continuar comemorando pequenos avanços, mas ficando para trás em relação ao resto do mundo.

Não queremos alimentar uma ambição que exige décadas, porque nos contentamos com pequenos avanços rápidos

O atual frágil sistema educacional municipal está melhorando, mas não nos coloca entre os melhores e não nos levará a uma escola de qualidade igual para todos. Para saltar e termos uma das melhores educações do mundo, vamos precisar mudar os pneus do carro e o carro também. Ou seja, enquanto vamos melhorando o sistema municipal atual, será preciso também implantar um novo sistema nacional, paulatinamente, por cidades, ao longo de 20 ou 30 anos.

Para isso será necessário que o Brasil entenda que educação não é apenas um direito de cada brasileiro, como diz a Constituição: é o motor do progresso econômico e da justiça social. O trabalho do MEC deve se concentrar na educação de base e, aos poucos, o governo federal vai adotando educação de base nas cidades sem condições de dar uma boa escola a suas crianças.

Nessas cidades, seria necessário implantar escolas novas, com professores de nova carreira federal, bem remunerada, com dedicação exclusiva e avaliações periódicas, em prédios novos e equipados com o que houver de mais moderno na área de tecnologias pedagógicas. E todas as escolas funcionando em horário integral. Cada escola também teria gestão descentralizada com liberdade pedagógica. A adoção federal seria voluntária por opção da cidade, não por imposição da União.

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Considerando a média de 30 alunos por sala, para ter uma boa escola, o custo anual de cada aluno seria em torno de R$ 15.000,00. Esse custo/aluno/ano permite pagar um salário mensal de R$ 15.000,00 ao professor dessa nova carreira. Se o Brasil voltar a crescer a 2% ao ano, ao final de 30 anos, esse novo sistema federal exigiria apenas 6,5% do PIB para atender aos atuais 50 milhões de alunos.

Isso tudo é possível financeiramente, mas muito difícil politicamente e quase impossível mentalmente, porque nós brasileiros, eleitores e eleitos, não temos grandes ambições intelectuais como nação, e menos ainda temos compromisso de igualdade na educação. Além disso não queremos alimentar uma ambição que exige décadas, porque nos contentamos com pequenos avanços rápidos.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.

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