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Quando se trata da dependência química, a adolescência é um período fundamental para a maturação do cérebro feita por meio das conexões sinápticas. Isso é importantíssimo. Desde que a criança nasce, ela vai melhorando sua condição cerebral até a fase adulta. Mas, neste contexto entra a cannabis, a maconha. A droga mais consumida pelos adolescentes justamente no momento em que começa o amadurecimento cerebral. E a sociedade tem parcela de responsabilidade nisso pelas mensagens encaminhadas aos adolescentes, por exemplo, em filmes nos quais os jovens fumam a maconha. Ou então quando articula informações que levam a crer numa “maconha para uso medicinal”. Mas não. Pois, nesta hipótese o uso terapêutico tem de ser controlado pelas instituições de saúde. São, portanto, tipos de mensagens absolutamente equivocadas.

É sabido que o uso da maconha pelos adolescentes perdura por muitos anos. E os pais possuem certa responsabilidade quando sabem do consumo e se omitem ao considerarem que os filhos usam “apenas maconha”. Mas a verdade é que já existem indicadores que demonstram a queda do rendimento escolar dos adolescentes que consomem a substância. Os efeitos mais prejudiciais da cannabis são verificados na redução das habilidades cognitivas das pessoas que estão em pleno processo de maturação durante a adolescência. E grande parte dos quadros psiquiátricos decorrem destas alterações, pois já se sabe do potencial aumento de distúrbios psiquiátricos nos usuários de maconha.

Pânico e psicose são exemplos contumazes dos transtornos causados pelo uso da planta

Pânico e psicose são exemplos contumazes dos transtornos causados pelo uso da planta. Alguns destes quadros podem ser reversíveis, mas, infelizmente, nem todos são. Muitos dos casos de transtorno enfrentados pelos pacientes são irreversíveis. De forma simples, o amadurecimento cerebral não acontece porque a maconha, e as substâncias que a compõe, invade os receptores cerebrais e provoca alterações cognitivas nos neurônios. Um usuário de maconha, em curto prazo, tem a inteligência geral, velocidade de processamento, memória de trabalho, atenção, aprendizagem, memória verbal e capacidade de processamento de erros, todos, consideravelmente reduzidos. Estes são os efeitos da droga tida como natural e que eventualmente teria consequências menos piores que outras substâncias tão perigosas quanto, como o tabaco.

Já a longo prazo, as capacidades atencionais são reduzidas nas pessoas que usam por anos e anos a maconha, tendo iniciado o consumo na fase adulta. São alterações que não permitem que estes indivíduos desenvolvam capacidades atencionais eficientes. Isso significa a deficiência da velocidade de processamento das informações, bem como das memórias de curto e longo prazos. Esses fatos chamam a atenção porque o pico de uso em adolescentes está na faixa dos 15 anos. No entanto, muitos iniciam o uso bem antes. Aos nove anos. Ainda crianças. Este é o momento em que a maconha afeta mais o cérebro, que começa a apresentar um desenvolvimento mais anormal devido ao uso da maconha.

Leia também: Maconha, glamourização e realidade (artigo de Carlos Alberto Di Franco, publicado em 15 de janeiro de 2017)

Leia também: A liberação da maconha no Uruguai (artigo de Alexandre Nigri, publicado em 21 de janeiro de 2018)

Para aqueles que acreditam ou defendem que a maconha não causa dependência, é preciso desmistificar esta suposição. Cerca de 37% das pessoas que fumam maconha são dependentes alcoólicas. E, conforme as estatísticas brasileiras, estamos falando de mais de 1,3 milhões de pessoas. O álcool tem uma capacidade tóxica muito alta num contexto em que o uso maconha por adolescentes está ligado ao consumo de álcool. Pois é comum que os adolescentes fumem maconha e tomem bebidas alcoólicas ao mesmo tempo. Imagine como este adolescente, que já consome álcool e maconha, chega aos consultórios médicos. No mínimo, com condições cerebrais já degradadas. E, diga-se que, geralmente, a sequência do consumo de substâncias é cigarro, álcool, maconha e, a partir daí, outros estimulantes.

Portanto, quando se fala em responsabilidade social perante o consumo de maconha por crianças e adolescentes tem-se a premissa das interações sociais como agentes capazes de moldar hábitos. São equalizadores sociais relacionados ao uso das substâncias químicas sobretudo quando há a exposição a uma cultura de consumo que define os hábitos do adicto. Isso é o que explica as tentativas de descriminalização e legalização da maconha. Se estabelece a indução ao consumo de uma droga a qual as pesquisas científicas já correlacionam com o aparecimento precoce do Mal de Alzheimer. Já quando se propõe o uso terapêutico dessa substância é necessário debater e compreender o que, de fato, significa o uso terapêutico da maconha para que se tenha o uso controlado pela medicina e evite-se a tolerância, a dependência e a adicção.

Pablo Roig é médico psiquiatra e diretor da Clínica Greenwood.
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