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Emprego e desemprego
| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O desemprego no Brasil sempre foi crônico, mesmo em épocas boas. Há muitas décadas, esta preocupação está presente em toda a nossa sociedade, algo que pode ser constatado de forma cabal em toda a dramaturgia brasileira, como novelas e filmes, bem como no histórico econômico. Mas nos últimos anos, em especial a partir de 2015, o desemprego saiu do controle em todos os aspectos; nunca vimos dados tão catastróficos na história do país. E a demora na retomada do emprego preocupa a sociedade e o governo.

Mesmo economistas questionam se já não era tempo de o desemprego estar em processo de redução, considerando que estamos no meio do ano, com novo presidente e com perspectivas de reformas. Mas temos de considerar que o problema do emprego no Brasil se desenrola de forma muito acentuada, pois nunca houve uma política econômica de Estado e sim de governo, limitando sua eficácia. Em sua maioria, as políticas econômicas e os planos que tivemos sempre visavam o curto prazo ou a construção de obras faraônicas, com objetivo de ganhar uma nova eleição – a exceção foi o Plano Real –, mesmo que isso custasse gastar dinheiro que não havia, equacionando o momento circunstancial com aumento de dívida interna (venda de títulos públicos) ou dívida externa, cada qual em sua época.

Como resultado, a economia brasileira sempre teve voos de galinha: um crescimento maior em alguns pequenos períodos, seguidos pelo retorno do velho problema. Criou-se, então, um ciclo perverso para a economia e pior para os trabalhadores. É por esse motivo que não temos crescimentos econômicos sustentáveis. Foi o que aconteceu após a reeleição de Dilma Rousseff: graças à gestão perdulária, acabou o dinheiro e os problemas com reflexo econômico se avolumaram, criando-se a maior recessão da história brasileira, resultando no maior número de desempregados jamais visto.

Com a chegada de Michel Temer e, depois, de Jair Bolsonaro, as expectativas positivas foram superfaturadas com as respectivas posses; os resultados não vieram da forma esperada pela maioria dos formadores de opinião. Foi um bafejo, mas longe da reversão divulgada.

O mero fato de fazermos as reformas não irá necessariamente trazer os investimentos estrangeiros no volume e na proporção de que precisamos

O mercado (por atuar de forma imediatista) e o país (que tem problemas estruturais ainda muito acentuados) atrapalham novos investimentos de grande monta para geração de novos empregos; os juros exorbitantes e a burocracia em excesso ainda inibem o pequeno empresário. O Brasil vive um contexto delicado economicamente, pois está quebrado e não pode aumentar os seus gastos; o modelo de grandes obras e planos imediatistas está exaurido. O país não tem eficiência em seus gastos, com péssimos gestores (as exceções à regra são pontuais). Tudo isso, somado a uma conjuntura internacional desfavorável economicamente, cria o resultado que vivemos hoje. Acabou o dinheiro!

Quando há crédito e gastos do governo, a economia cresce, e neste caso fica fácil administrar. Porém, esta sempre foi a grande dualidade negativa que o Brasil viveu até hoje, e seu grande problema. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um dos instrumentos para tentar minimizar o gasto excessivo, mas esta lei, por diversos motivos, ainda deixa lacunas para maus gastos por parte da administração pública.

Vivendo desta forma, a economia e o emprego não conseguem se sustentar, principalmente quando não temos um planejamento de longo prazo, algo como um projeto de país, semelhante ao que fizeram a China, na década de 1980, e outros países asiáticos, como a Coreia do Sul. O advento da alta tecnologia e da automatização fez com que empregos fossem excluídos e outras tarefas necessitassem de um menor número de pessoas, agravando ainda mais o problema.

A pá de cal é a ideia de que a mudança de governo seria, por si só, a panaceia que resolveria todos os problemas econômicos, criando expectativas megaestimadas! É um fenômeno que pode ter acontecido também em outros governos, mas, em alguns casos, decorreu de pura sorte; ou de um aumento de endividamento nada salutar para a economia; ou, ainda, do crescimento da economia internacional, com aumento de venda de commodities, como na época do ex-presidente Lula.

No governo Bolsonaro nada disso aconteceu, pelo menos até o presente momento. Poderíamos e deveríamos estar melhores – não pelo fator sorte que outros governos tiveram, mas por termos um time extraordinário e com propostas viáveis no Ministério da Economia. No entanto, a articulação do governo no Congresso tem sido pífia e, portanto, a reforma da Previdência, que é o primeiro problema a ser resolvido, não anda de forma adequada: as alterações feitas pela Câmara estão mantendo privilégios em várias categorias do funcionalismo e desidratando a reforma. Fazendo uma análise objetiva, podemos afirmar que a reforma previdenciária tira privilégios de algumas categorias públicas, mas favorece outras, como os militares. Já o setor privado não terá privilégio algum, principalmente os pobres e a classe média, que, ao contrário das corporações, não têm representantes no Congresso.

O mero fato de fazermos as reformas não necessariamente irá trazer os investimentos estrangeiros no volume e na proporção de que precisamos para encaminhar o problema do desemprego. Mas, no atual contexto, elas são necessárias. A única chance de o emprego ser retomado consistentemente é concluir em bom termo as reformas previdenciária, tributária, fiscal e política, vinculadas a um projeto de país com começo, meio e fim, pois não temos mais dinheiro, nem projeto de longo prazo.

Màrcello Bezerra é professor, palestrante e economista.

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