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De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), foram gerados no Brasil quase 1 milhão de novos postos de trabalho formais em 2009, mesmo com um crescimento do PIB próximo de zero. Em outras palavras, criamos emprego sem crescimento econômico, além de o país ter apresentado um relevante processo de apreciação cambial. A partir desse cenário, uma pergunta interessante que podemos fazer é: será que esse fenômeno é positivo para a economia brasileira?

A criação de empregos é um fenômeno desejado, ainda mais quando a economia internacional enfrentava um período de turbulência, com vários países apresentando retração do PIB e do nível de emprego. A apreciação cambial é reflexo da atração de capital externo, e isso ocorreu mesmo em um período de crise internacional.

Esse cenário, incomum, deve-se justamente à fraca demanda internacional aliada a um bom dinamismo do mercado interno, principalmente de setores como construção civil, serviços e comércio, que são os intensivos em mão de obra, além da confiança nos fundamentos da economia brasileira por parte dos investidores externos.

Por um lado, podemos dizer que, com o mesmo nível de produto e maior nível de em­­prego, ocorreu uma melhora na distribuição do que foi produzido, além da elevação do poder de compra dos trabalhadores pelo processo de apreciação do real perante as moedas relevantes nas transações internacionais. Ou seja, com o mesmo valor de bens e serviços produzidos, o poder de compra dos trabalhadores se elevou devido ao barateamento dos importados diante dos bens e serviços produzidos no país.

O outro lado da história é o fraco desempenho apresentando pelo setor industrial brasileiro em termos de produto e emprego. Esse setor sofre um maior nível de concorrência externa porque os bens industriais são comercializáveis com outras nações. Enquanto a demanda por esses produtos diminuiu consideravelmente devido à recessão em vários países, a apreciação do real reforçou ainda mais esse fenômeno por encarecer os produtos nacionais. Em outras palavras, os setores com maior nível de produtividade e que concorrem com empresas estrangeiras perderam espaço em favor de setores mais intensivos em trabalho.

A perda de participação desses setores levou ainda a um processo de deterioração da balança comercial brasileira e a conta-corrente voltou a apresentar elevados déficits, com perspectiva de que aumentem ainda mais. Portanto, o país passou a depender da entrada de capitais externos para financiar esses déficits. Ou seja, estamos voltando à rota de criação e elevação de dívida ex­­terna e a todos os problemas de crises externas associadas a isso.

No curto prazo, o cenário de criação de em­­prego sem crescimento com apreciação do real foi positivo para os trabalhadores e consumidores brasileiros. No entanto, se essa rota de foco na demanda interna para dinamizar a economia, aliada a uma fraca demanda externa e a apreciação cambial for mantida, as consequências sobre o desempenho da economia brasileira podem ser calamitosas.

Já tivemos algumas experiências de crescimento com poupança externa, no passado recente. O resultado dessa opção é fuga de capitais em momentos de incerteza internacional. Essa, por sua vez, leva a crises no balanço de pagamentos, depreciação da moeda nacional e deterioração nos balanços dos setores privado e público, com possível intervenção do FMI e, na pior das hipóteses, moratória da dívida.

Não podemos nos deixar iludir pelos efeitos positivos de curto prazo do atual cenário econômico. Se não olharmos para frente, estaremos perdendo, mais uma vez, o bonde do crescimento econômico.

Luciano Nakabashi é doutor em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia

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