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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

As constantes modificações das políticas públicas na educação, assim como reformulações e experiências no sistema, reforçam a tese de que a solução para o ensino está na educação a distância (EAD). Minha experiência na área e análises de especialistas apontam que o futuro é esse: as vantagens sobre o sistema tradicional são inúmeras, favorecidas pelas deficiências crônicas principalmente na educação pública, cujos projetos pedagógicos estão desatualizados. Alguns críticos até já disseram que o modelo de ensino brasileiro, se não está falido, está próximo disso; e que o sistema presencial vai continuar perdendo terreno e pode até vir a ser substituindo pelo ensino a distância. O futuro da educação é digital.

Na verdade, EAD não é coisa nova; existe há praticamente um século, tendo começado pelos cursos por correspondência, precursores em levar o ensino aos mais distantes pontos onde houvesse alguém interessado em adquirir conhecimento, geralmente com finalidade profissionalizante. Nas últimas décadas vem registrando vigorosa expansão, com modernização e qualidade. Os chamados cursos on-line ganham espaço inclusive em empresas, atraindo profissionais que buscam qualificação e aprimoramento. Empregadores também despertaram e apostam em cursos virtuais para melhorar o nível de conhecimento de funcionários e colaboradores, fatos que acentuam a importância da EAD. “Recrutadores têm percebido que quem busca essa metodologia é alguém focado em sua capacitação”, segundo afirmou um especialista em recursos humanos.

Apesar de todas as evidências e resultados positivos, a metodologia ainda não é aproveitada em seu potencial pleno no ensino público. Sabemos que, por ser um país de extensão continental, o Brasil enfrenta desafios enormes para levar conhecimento a todas as partes, e a EAD surge como alternativa, pois tem formato acessível ao público com dificuldade de deslocamentos e que se preocupa com custos logísticos na busca de qualificação profissional.

O ensino a distância promove a inclusão social, abre oportunidade a todos indistintamente

A utilização do ensino a distância na educação oficial é de inconteste necessidade pelas vantagens oferecidas. A tecnologia proporciona ao professor mais ferramentas para ilustrar a aula, facilitando o aprendizado muito mais do que no sistema presencial. Estudos especializados e avaliações indicam que os alunos apresentam formação de melhor qualidade na comparação com o modelo tradicional; o aluno em sala de aula encontra mais dificuldade pela carência de material de apoio, o que não ocorre com a disponibilidade dessas ferramentas via internet. Há outro diferencial comprovado: o aluno estuda mais, se esforça mais, porque o professor no sistema EAD é apenas indutor: o estudante tem a obrigação de pesquisar e isso auxilia no raciocínio, já que ele aprende a pensar. Com o avanço da tecnologia, o processo ganhou agilidade e vantagens para o estudante, que não precisa ficar à frente da televisão ou do computador, podendo utilizar qualquer dispositivo com acesso à internet – tablets, smartphones e outros.

A EAD, no âmbito do ensino público, não deve ser pensada apenas como modelo de alfabetização ou para o ensino médio. A metodologia associada à moderna tecnologia da informação mostra avanço significativo; são oferecidos cursos de graduação e pós-graduação com alto aproveitamento. Outro importante aspecto que a administração pública (federal, estadual e municipal) deve considerar (e aproveitar) é o treinamento de seus corpos docentes por meio da EAD e toda sua gama de ofertas em facilidade, agilidade e capilaridade. A maioria das prefeituras, responsáveis pelo ensino básico, não tem condições de proporcionar cursos em conhecimento e atualização aos seus professores. Os cursos on-line preenchem essas carências de forma eficiente e a um custo quase zero. Então, a modalidade resolveria essa falha no preparo, capacitação, aprimoramento sem prejuízo do tempo que os professores devem dedicar à rotina em sala de aula.

Aponto ainda outro argumento para a adequada utilização desse sistema: a educação continuada, que pode e deve alcançar também o universo de funcionários públicos dos três níveis, que em sua maioria necessitam de reciclagem. O sistema EAD poderia suprir outra falha no ensino no Brasil, que é a dificuldade de encontrar professores preparados para as matérias de Física, Química e Biologia com complementação de aulas dessas matérias como reforço para o aluno.

Leia também: A educação a distância não é mais o patinho feio do ensino superior (artigo de Jacir Venturi, publicado em 15 de março de 2017)

Leia também: Educação superior na era da disrupção (artigo de Carlos Longo e Leandro Henrique de Souza, publicado em 5 de novembro de 2015)

Lembro que para o governo um programa de ensino a distância tem custo ínfimo, visto que o MEC dispõe de condições e estrutura, mantendo rede tecnológica incluindo televisão. Defendo ainda que o sistema seja aproveitado também para um curso de formação política, nos moldes do ensino de Moral e Cívica, que foi matéria da grade curricular no passado. Uma instituição isenta, como a OAB, por exemplo, poderia montar um módulo específico, com conteúdo único para todo o país, o que contribuiria para não ocorrer discrepância entre cursos ou até mesmo para evitar que professores imponham ideologia pessoal. Matéria desse tipo seria muito útil para despertar nos jovens o interesse na participação política, oferecendo formação cidadã com noções políticas para o aprendizado prático do sistema político-eleitoral, orientando a juventude no sentido de aprender a votar.

Por fim, lembro que o ensino a distância promove a inclusão social, abre oportunidade a todos indistintamente, dos cursos básicos à pós-graduação, especialização, mestrado, doutorado. É também essencialmente democratizante: todos participam em igualdade de condições, seja um aluno da Avenida Paulista, em São Paulo, ou de remota localidade na Amazônia, ambos têm a mesma oportunidade, o mesmo conteúdo, o mesmo tutor e o mesmo diploma validado e reconhecido pelo Ministério da Educação.

Para os brasileiros crescerem em conhecimento, a educação brasileira precisa se modernizar, abrir e ampliar caminhos. Deve possuir capilaridade, promover efetivamente a inclusão social e ter por meta a democratização do ensino, do conhecimento. A educação a distância atende a esses primados, preenche tais requisitos. Para cumprir esses princípios depende tão somente de vontade política.

Luiz Carlos Borges da Silveira, empresário, médico e professor, foi ministro da Saúde e deputado federal.
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