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Entrei em uma loja de vinhos, pois queria comprar um tinto espanhol, mas só encontrei vinhos brasileiros. Perguntei para o atendente se eles não vendiam mais importados, e ele me disse que o governo tinha baixado uma nova lei para proteger os produtores nacionais, e que agora havia uma cota máxima de produtos importados para vender, a qual já tinha se esgotado. Dava para ver que ele estava um tanto nervoso – eu não devia ser o primeiro cliente insatisfeito, que saía da loja sem comprar nada.

Desisti do vinho e resolvi jantar numa lanchonete. Pedi um hambúrguer com batata frita, e o garçom me respondeu: “Está em falta, senhor”.

A dependência do Estado é uma doença que destrói a força e a capacidade de movimento de uma sociedade

“Mas como? Isso aqui é uma lanchonete!”

“Sim, mas o governo baixou uma lei protegendo os produtos de origem indígena e nacional, e agora temos cota para a batata. Se o senhor quiser, tem mandioca frita. Ah, e o hambúrguer também tem cota, pois é estadunidense. Se o senhor quiser, temos bauru e churrasquinho.”

“Deixa pra lá. Perdi a fome. Me dá só uma Coca-Cola.”

“Tem guaraná, senhor... Acabou a cota da Coca também.”

Já sem acreditar no que estava acontecendo, saí da lanchonete e fui ao cinema, para tentar esquecer aqueles absurdos. Chegando lá, todas as salas estavam exibindo o novo filme do Fábio Porchat, algumas em português e outras dubladas em tupi-guarani. Pensei em perguntar o porquê daquilo, mas seria perda de tempo. Resolvi voltar para casa. Ao chegar aonde tinha estacionado o carro, quase caí de costas: ele havia se transformado num Gurgel BR-800. Saí correndo, assustado, até que escorreguei, bati a cabeça e... acordei suando.

Esse pesadelo que tive é o sonho da esquerda brasileira. Ora é a Ancine se intrometendo nas exibições de cinema e televisão, ora é a Camex alterando o Imposto de Importação para “proteger” algum setor industrial, ora é o Judiciário decidindo em favor de indígenas e quilombolas e rasgando os títulos de propriedade privada, ora são artistas incompetentes que querem ser privilegiados por regras estatais para conseguir público. Esse foi o caso de Fábio Porchat, recentemente indignado com a decisão do dono de um cinema que, para agradar o público, resolveu exibir Velozes e Furiosos 7 em quase todas as suas salas, enquanto o filme de Porchat ficava de fora da grade.

A mentalidade desse artista é a mesma de governantes, legisladores, juízes e militantes de esquerda: a de que o Estado deve tratar seus cidadãos como crianças inaptas e incompetentes para tomarem decisões.

O Brasil nunca será um país produtivo e desenvolvido enquanto os brasileiros não forem adultos competentes e responsáveis. A dependência do Estado é uma doença que destrói a força e a capacidade de movimento de uma sociedade. Esperamos que o Estado nos dê saúde, educação, segurança, lazer, emprego, e que cuide dos pobres e oprimidos. Mas, ao terceirizarmos ao Estado o que nos faz humanos – ou seja, a autonomia, a iniciativa, a capacidade de lutar, a caridade, o altruísmo, a cooperação e tudo mais que vem da parte mais alta de nossa alma –, estamos nos suicidando, soterrados pelo coletivismo burro que elege governos populistas e salafrários.

Acordemos, antes que o próximo item em falta seja a liberdade.

Flavio Quintela, escritor, é autor de Mentiram (e muito) para mim e coautor de Mentiram para mim sobre o desarmamento.
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