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Resistência que custa vidas
| Foto: Pixabay

Recentemente, um dos porta-vozes mundiais do movimento antivacina ficou quatro dias internado após contrair catapora. Depois de passar por tratamento, o político italiano Massimiliano Fedriga, afirmou que não apoiará mais a causa. O episódio em questão traz à tona uma profunda (e, provavelmente, interminável) discussão sobre a colaboração de cada indivíduo da sociedade na prevenção de doenças.

A medicina existe para curar. Mais do que isso, ela objetiva a promoção da saúde de todas as pessoas do mundo. Tendo essa finalidade em vista, o estudo da medicina só terá cumprido sua missão na terra quando todas as doenças forem passíveis de prevenção e/ou cura. Embora (sejamos realistas) essa meta seja praticamente inatingível, um sonho muito distante. Para trilhar este longo caminho, aqueles que se dedicam a essa ciência encontraram nas vacinas uma forma de prevenir doenças que até pouco tempo atrás levavam a óbito milhares de pessoas ao redor do mundo.

O custo da realização de exames laboratoriais para prevenção é infinitamente menor que o custo observado para tratamento de uma doença

Com os exames laboratoriais não é diferente. Eles foram criados e são constantemente aprimorados com o intuito de auxiliar na prevenção e controle de várias patologias. Ou, pelo menos, para promover o diagnóstico precoce e aumentar as chances de tratamento e cura.

Não é incomum encontrarmos pessoas resistentes e até mesmo contrárias à realização de exames. No Brasil, embora este seja um "movimento" ainda muito mais tímido que o antivacinas, é igualmente perigoso. Uma sandice que coloca em risco a saúde de toda sociedade.

Os "antiexames" tem apoio e até mesmo incentivo de figuras-chave no sistema de assistência à saúde. Como autoridades governamentais que, frequentemente, afirmam que exames com resultados normais são um gasto desnecessário, um desperdício.

O alegado grande número de exames com resultados dentro do padrão não pode ser considerado como um sinal de que exames estejam sendo solicitados sem indicação correta. Neste sentido, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial já aderiu ao programa Choosing Wisely Brasil. O objetivo é orientar os profissionais da área sobre o uso racional dos exames, por meio de uma lista de recomendações.

Leia também: Pais, por favor, vacinem seus filhos! (artigo de Jaime Rocha, publicado em 31 de agosto de 2018)

Leia também: Plano de saúde ou plano de doença? (artigo de Cadri Massuda, publicado em 14 de junho de 2018)

Em tempos de medicina preventiva, somada à malfadada medicina defensiva, é de se esperar que exames com finalidades de excluir potenciais problemas sejam incluídos nas listas de testes solicitados por especialistas. Portanto, resultados de exames dentro do padrão de normalidade devem ser comemorados. Afinal, já há vasta literatura comprovando que o custo da realização de exames laboratoriais para prevenção é infinitamente menor que o custo observado para tratamento de uma doença.

Não só o custo financeiro deve ser avaliado nestes casos. Caso não sejam detectadas, as doenças que podem ser prevenidas através de vacinas e identificadas por meio de exames laboratoriais podem causar sequelas graves ou até mesmo levar pessoas a óbito. Consequências que nem todo o dinheiro do mundo consegue reparar.

Prevenir doenças é um dever coletivo. Assim como as vacinas, os exames laboratoriais preventivos salvam vidas. O papel dos profissionais atuantes no setor é trabalhar para que movimentos de resistência levianos, sem embasamento técnico e científico não vitimizem pessoas que podem ser tratadas e curadas.

Wilson Shcolnik é presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), diretor da Câmara Técnica da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e de Relações Institucionais do Grupo Fleury.

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