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A sala de aula constitui os metros quadrados mais nobres de qualquer organização edu­­ca­­cional e é nesse espaço que devemos colocar os melhores talentos

No Brasil, de 2005 para cá, os formandos nos cursos de licenciatura apresentam uma queda anual média de 4,5%. Diagnóstico: pouca valorização social da carreira e um ambiente escolar de conflitos, desinteresse e indisciplina. No entanto, para muitos candidatos, são atraentes algumas singularidades da profissão: o professor bom ou mediano não fica desempregado, tem aposentadoria especial, pelo menos 45 dias de férias, estabilidade no emprego (nas públicas) e a nobilíssima missão de ser um educador.

A divulgação das estatísticas feitas pelo MEC é recente, mas referem-se a 2007: nesse ano, os cursos de licenciatura formaram 70.500 professores, portanto aquém dos 83 mil concluintes em Direito, uma área bastante saturada, uma vez que há no Brasil 636.630 advogados.

Quantos dos 83 mil formados em Direito não estariam mais realizados se tivessem optado pelo magistério? No vestibular, renderam-se aos encantos das pouquíssimas vagas da magistratura? Por que não oferecer amplamente cursos de capacitação de disciplinas pedagógicas para que esses profissionais e de outras áreas venham a dar aulas na educação básica? Candidatos existem aos milhares: engenheiros, advogados, odontólogos, jornalistas, publicitários, psicólogos etc., que batem às portas das escolas com a volúpia de lecionar, compartilhando aulas com a sua profissão, mas estão impedidos por lei. Enlevariam o ambiente escolar, trazendo novas experiências. Todos nós conhecemos bons didatas e que passaram ao largo de uma licenciatura.

No início da minha carreira de professor da UFPR e da PUCPR, lecionei preferencialmente para as turmas de engenharia, com maior nível de exigência. Dei-me conta mais tarde de que poderia ser mais útil nas turmas de licenciatura: havia bons alunos, sim, no entanto a maioria tinha pouca base, pois menor é a concorrência nos vestibulares. Nós, professores, tínhamos por meta motivá-los e especialmente reduzir o índice de desistência que beirava os 70% nos cursos de Física, Matemática e Química.

A baixa qualificação de parte dos nossos docentes ficou comprovada no ano passado, quando o governo de São Paulo aplicou uma prova para preencher 100 mil vagas de professores temporários. O resultado foi nefasto: cerca de 50% dos candidatos não atingiram a nota 5 e 1.500 realizaram a proeza de zerar numa prova de 5 alternativas com 25 questões. E o mais funesto: não havendo outra opção, todos os candidatos foram para a sala de aula.

Um desafio de proporções mundiais é atrair os bons talentos para lecionar. Cuba, dos irmãos tiranetes Fidel e Raúl, apesar de sua economia fechada e obsoleta, possui um bom sistema de ensino. Os melhores universitários e formados nas diversas áreas recebem incentivos para lecionar e são oferecidas disciplinas de didática nos fins de semana. Os habitantes dessa ilha caribenha detêm uma boa escolaridade, pois aplicam uma receita básica: valorização do professor, alunos que se fazem presentes na escola das 8 h às 16h30 e os coordenadores pedagógicos, amiúde, entram em sala para assistirem às aulas e orientarem os docentes.

A sala de aula constitui os metros quadrados mais nobres de qualquer organização educacional e é nesse espaço que devemos colocar os melhores talentos. Uma caça ao tesouro, com abrangência mundial, pois, antes de Cuba, outras nações como Finlândia, Coreia do Sul, Irlanda, EUA, Cingapura etc., estabeleceram programas de formação de celeiros de bons didatas, atraindo para a docência os excelentes estudantes do ensino médio ou capacitando professores e profissionais não licenciados.

Nesse mister, podemos contar com um grande número de pessoas que carregam dentro de si a chama esplendorosa do entusiasmo em promover o ser humano no espectro ético, social, cognitivo e espiritual. Educar tem etimologia latina belíssima: ducere, que significa conduzir, mostrar o caminho.

Jacir J. Venturi, diretor de escola, foi professor da educação básica e ensino superior.

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